sexta-feira, 29 de abril de 2011

Descrição do Enlace Matrimonial com Visnupriya


Descrição do Enlace
Matrimonial com Visnupriya



Capítulo do Caitanya-Bhagavata cedido em cortesia pela BBT Brasil. O Caitanya-Bhagavata, em seu total de cinquenta e cinco capítulos, encontra-se disponível para compra


Caitanya-Bhagavata, de Vrndavana dasa Thakura



Adi-khanda, Capítulo 15, Sri Visnupriya-parinaya-varnana



Todas as glórias, todas as glórias ao Senhor Caitanya! Todas as glórias ao Senhor Nityananda! Meus Senhores, por favor, ofereçam-me Seus pés de lótus para que assim eu possa mantê-los no íntimo de meu coração. Glórias e mais glórias ao Senhor Gauranga e a Seus associados! Obtém o serviço devocional ao Senhor Supremo aquele que simplesmente ouve estes fascinantes passatempos de Sri Caitanya.



Continuava a desfrutar de Seus passatempos o Senhor sem que ninguém identificasse Sua identidade verdadeira. Ao nascer do sol, o Senhor cantava o mantra Gayatri, observava outros deveres religiosos diários, oferecia reverências à Sua mãe e então ia dar aula para Seus alunos.



Mukunda-Sanjaya é um servo eterno do Senhor, e Purusottama dasa era seu filho. Para lecionar, o Senhor Caitanya diariamente caminhava até a casa de Mukunda-Sanjaya – o que revela quão afortunada era essa personalidade. A princípio, Nimai Se sentava sozinho no candi-mandapa. Então, gradualmente, Seus alunos chegavam e se acomodavam. Ocasionalmente, algum estudante se esquecia de aplicar tilaka em sua testa. Como o propagador e mantenedor do Sanatana Dharma, Nimai Se sentia obrigado a proteger as almas condicionadas de qualquer forma de desvio dos princípios religiosos. Ele, portanto, quando necessário, nunca deixava de retificar Seus alunos. Nimai colocava o estudante esquecido em uma situação tão constrangedora que ele apenas consentia com a instrução e nunca mais se esquecia de aplicar tilaka. “Meu querido irmão, vejo que você não está usando tilaka. Qual é a razão para isso?”, perguntava Nimai. “‘Se um brahmana não usa tilaka, sua fronte é tão pura quanto um crematório’, os Vedas afirmam. Pela ausência de tilaka em sua testa, posso entender que você, de fato, não cantou o mantra Gayatri. Ó Meu irmão, suas práticas religiosas e cantar do Gayatri de hoje foram inúteis. Vá para casa e observe novamente seus deveres bramânicos. Então, com tilaka em sua fronte, você pode voltar aqui para estudar”. Assim Se portava o Senhor com Seus alunos. Em consequência, todos eles eram muito atentos na prática de seus deveres religiosos.



O Senhor não modificava Sua disposição arrogante e jocosa, e também não poupava ninguém de Suas críticas. Qualquer um que agisse de forma negligente sujeitava-se à estrita correção do Senhor. O caráter de Nimai, no entanto, era sempre exemplar. Ele nunca fazia piadas ou ria na companhia das esposas de outros. De fato, Ele mantinha distância de mulheres e, tanto quanto possível, evitava Se encontrar com elas. Nimai gostava de implicar especialmente com os residentes de Srihatta, imitando o dialeto peculiar que tinham. Os enfurecidos residentes de Srihatta retrucavam: “Ora! Ora! De que terra Você vem? Diga-nos de onde vêm Seu pai, Sua mãe e os descendentes deles. Qual deles não nasceu em Srihatta? Você é filho de Srihatta. Por que, então, fica zombando de nós?”. Quanto mais eles argumentavam com o Senhor, mais Ele Se divertia imitando o dialeto deles. Se, contudo, a pessoa provocada não se irritasse, o Senhor a provocaria até deixá-la irritada. Algumas vezes, eles furiosamente tentavam agarrar o Senhor, mas em vão. Incapazes de pegar Nimai, só lhes restavam gritar ameaças e bater com a sola do pé contra o chão. Eventualmente, um deles conseguia pegar o Senhor e, segurando Seu dhoti pela cintura, arrastava-O até o juizado muçulmano de pequenas causas para registrar queixa. Mas, no final, os amigos do Senhor apareciam e tudo sempre acabava bem. Alguns dias, o Senhor entrava na casa de alguém da Bengala Oriental, quebrava tudo e então fugia fingindo estar com medo de ser pego. Assim Se dava o mau comportamento transcendental do Senhor em Navadvipa. Ele, entretanto, nunca estava em nenhum incidente que envolvesse mulheres. De fato, Ele nunca olhava para uma mulher. Nesta encarnação, o Senhor nem mesmo ouvia a palavra “mulher”, o que O tornou famoso em todo o mundo. Portanto, os devotos fixos nas conclusões escriturais nunca glorificam o Senhor Caitanya como “Gauranga-nagara”, o Senhor no humor de um amante. Embora toda forma de elogio caiba no Senhor, os devotos puros e eruditos glorificam o Senhor de acordo com a natureza que Ele manifesta naquela encarnação específica. Em Navadvipa, a Suprema Personalidade de Deus era Nimai Pandita, o erudito.



Assim desfrutava o Senhor de Vaikuntha de Seus passatempos transcendentais como um professor na casa de Sri Mukunda-Sanjaya. Com Seus alunos a toda Sua volta, o Senhor professorava com grande prazer. Às vezes Ele fingia estar com dor de cabeça e pedia que massageassem Sua cabeça com óleo medicinal. Ele, então, com grande satisfação, dava procedimento à Sua aula. Começando ao nascer do sol, o Senhor Caitanya, o reservatório de todas as virtudes, lecionava por seis horas. Em seguida, Ele Se banhava nas águas do Ganges. Então Ele novamente lecionava do anoitecer à metade da noite. Após apenas um ano de estudo sob a orientação de Nimai, qualquer estudante deixava a escola como um pandita entendido em todas as conclusões escriturais.



Enquanto o Senhor Se absorvia dessa maneira em Suas atividades magisteriais, Mãe Saci pensava constantemente no recasamento do Senhor, [agora viúvo]. Por toda Navadvipa, Sacidevi procurava por uma noiva adequada para Nimai. Um homem pientíssimo e muito pródigo de nome Sri Sanatana vivia em Navadvipa. Ele era honesto, generoso e muito devotado ao Senhor Visnu. Sri Sanatana servia seus convidados e visitantes com grande hospitalidade e assistia às pessoas menos favorecidas. Nascido em família nobre, era veraz e autocontrolado. Por sua intelectualidade, era conhecido como Raja-pandita, o erudito majestoso. Sendo também muito rico, ele mantinha facilmente muitas pessoas. A filha de Sanatana Misra era muito bela e bem-comportada, tal qual Laksmidevi, a mãe dos mundos. No mesmo instante em que A viu, Sacidevi se convenceu de que aquela era a moça perfeita para seu filho. Desde a infância, Ela Se banhava no Ganges duas ou três vezes ao dia. Ela era muito dedicada e obediente a Seus pais e não conhecia nada além do serviço devocional ao Senhor Visnu. Todos os dias, quando Se encontrava com Mãe Saci onde se banhavam, Visnupriya oferecia a ela Suas humildes reverências. Muito satisfeita com Ela, Mãe Saci A abençoava dizendo: “Que Krsna A abençoe com um esposo adequado”. Mas, enquanto agora se banhava, Sacidevi pensava: “Essa jovem deveria ser dada a meu filho”. Em seus corações, o Raja-pandita e seus parentes próximos estavam igualmente desejosos em ter o Senhor na família.



Por arranjo divino, Mãe Saci encontrou-se com Kasinatha Pandita e disse a ele: “Meu caro Pandita, eu tenho uma proposta a fazer a Sri Sanatana. Por favor, diga ao Raja-pandita que, se ele assim desejar, ele pode oferecer a meu filho, Nimai, a mão de sua filha”. Com grande alegria, Kasinatha Pandita colocou-se sem demora em direção à casa de Sri Sanatana murmurando para si os nomes de Durga e Krsna. Ao ver Kasinatha à sua porta, o Raja-pandita imediatamente lhe ofereceu um assento. Após oferecer-lhe os devidos respeitos, Sri Sanatana perguntou: “A que devo sua visita, meu querido irmão?”. Kasinatha respondeu: “Eu trago uma proposta a você. Caso fique satisfeito com ela, você pode tomar as providências em seu favor. Você deveria oferecer sua filha em casamento a Visvambhara Pandita. Sob todos os aspectos, Eles são perfeitamente compatíveis. Ele é uma personalidade divina, adequado sob todos os aspectos para sua filha. E sua filha, a castidade personificada, também é perfeita para Ele. Assim como o Senhor Krsna e Rukmini são perfeitos um para o outro, Visnupriya e Nimai Pandita também o são”. Com a expectativa de seus conselhos e comentários, o pai de Visnupriya levou a novidade da proposta a sua esposa e parentes próximos. . “O que há para se pensar? Façamos logo todos os arranjos necessários para essa união perfeita”, disseram todos. Então, com muita alegria, Sri Sanatana disse a Kasinatha Pandita: “Já tomei minha decisão. Como não há outro brahmana como Visvambhara, darei a Ele a mão de minha filha. Se o Senhor Supremo autorizar este casamento, minha família e meus ancestrais serão imensamente beneficiados. Vá à casa deles e diga-lhes que sou completamente a favor dessa união e que farei todos os arranjos”.



Sri Kasinatha Misra estava imensamente satisfeito com o resultado de sua missão e foi sem demora estar com Mãe Saci para lhe contar tudo o que transcorrera na casa do Raja-pandita. Ouvindo que tudo havia ocorrido como desejado, Mãe Saci ficou muito feliz e começou a pensar nos preparativos. Ao receberem a notícia de que Seu casamento estava sendo arranjado, os alunos de Nimai ficaram todos muito jubilantes. Desde então, um cavalheiro abastado, de nome Buddhimanta, insistia: “Eu quero pagar por todos os custos do casamento”. Mas Mukunda-Sanjaya objetava: “Meu querido amigo, meu querido irmão, se você pagar por tudo, eu não poderei ajudar com nada?”. “Escute meu amigo e irmão”, disse Buddhimanta Khan, “não permitirei que a cerimônia deste casamento seja mais um daqueles casamentos de brahmanas pobres. Quando virem as festividades do casamento de Nimai Pandita, todos pensarão que um príncipe está contraindo núpcias”.



Então, em um momento auspicioso de um dia auspicioso, observou-se a cerimônia adhivasa em meio a muita felicidade e festa. O espaço reservado para a cerimônia era uma enorme tenda decorada com tapeçarias suspensas e multicoloridas. Muitas bananeiras haviam sido trazidas. Sofisticados jarros d’água, lamparinas de ghi, grãos, iogurte, manga e outros artigos auspiciosos eram encontrados por toda a parte. Todos os diferentes ingredientes requeridos foram dispostos no chão, que estava belamente decorado com pasta de arroz colorida. A todos os vaisnavas, brahmanas e pessoas respeitáveis de Navadvipa foi enviado um convite invitando-os para o banquete que seria realizado juntamente com a cerimônia de adhivasa. No começo da tarde, os músicos já haviam chegado e começavam a tocar. O som alto e melodioso de mrdangas, shanais, jayatakas, karatalas e outros instrumentos passeava pelas quatro direções. Os poetas deram início à recitação de preces, e as mulheres, castas e fiéis a seus esposos, contribuíam com um cantar ululante. E Nimai Pandita, a mais preciosa jóia dos brahmanas, encontrava-Se sentado em meio aos recitadores dos mantras Védicos. Os brahmanas, que pelas quatro direções O rodeavam, provavam grande bem-aventurança.



Diferentes objetos requeridos na recepção formal dos convidados, como essências aromáticas, pasta de sândalo, nozes de bétel e guirlandas florais, foram trazidos para Nimai. Ele enguirlandou os convidados respeitáveis, passou pasta de sândalo em suas frontes e ofereceu a cada um deles uma taça com nozes e folhas de bétel. A população de brahmanas de Nadiya era gigantesca. Chegavam brahmanas na festa e brahmanas iam embora como se fossem de número ilimitado. Alguns desses brahmanas eram muito gananciosos. Para ganharem novamente uma guirlanda, pasta de sândalo e nozes de bétel, eles, como atores de teatro, vestiam-se com novas roupas e fingiam serem outras pessoas chegando à festa pela primeira vez. Convidados vieram de diferentes e distantes localidades, por esta razão muitos não se conheciam. Apesar disso, a atmosfera festiva era muito agradável. O Senhor estava em um humor jovial, e exibiu o comportamento do anfitrião perfeito. Sorrindo, Nimai instruiu os responsáveis pela distribuição dos presentes aos convidados: “Dêem os presentes a todos no mínimo três vezes. Não se preocupem com o custo das guirlandas, da pasta de sândalo e dos outros artigos, apenas distribuam tudo livremente”. Assim solucionou o Senhor o problema de alguns convidados estarem aceitando os presentes várias vezes. O Senhor, devido a Seu profundo amor pelos brahmanas, pensou em Seu coração: “Alguns brahmanas tolos estão usando de falsidade para pegarem presentes extras. Essa é uma mentalidade trapaceira e ofensiva”. Foi para proteger a religiosidade de tais brahmanas que o Senhor deu a ordem de que tudo fosse distribuído livremente. Os brahmanas gananciosos, diante da generosidade do Senhor, ficaram envergonhados de si mesmos. Recebendo os presentes por três vezes, todos ficaram satisfeitos.



Entre os milhares de convidados, no entanto, ninguém tinha conhecimento de que as guirlandas de flores, a pasta de sândalo e as nozes de bétel distribuídas eram todas manifestações do Senhor Ananta Sesa, que viera servir o Seu Senhor, Nimai Pandita. Durante a profusa distribuição dos presentes, algumas flores e partes dos outros artigos caíam pelo chão. Somente tais remanentes ignorados seriam suficientes para a realização de cinco casamentos comuns. Todos os visitantes foram embora muito impressionados. Eles diziam: “Que adhivasa mais glorioso!”. Mesmo os homens mais ricos de Navadvipa, senhores de centenas de milhares de moedas, voltaram para casa impressionados, pois nem mesmo seus pais haviam fornecido tanto luxo para seus casamentos. Ninguém jamais distribuíra guirlandas, pasta de sândalo e nozes de bétel em tamanha abundância em Navadvipa. O Raja-pandita, Sri Sanatana Misra, estava extremamente jubilante. Ele e seus parentes próximos que estavam no adhivasa ficaram muito satisfeitos com os presentes que podiam levar para casa. Quando esses parentes brahmanas chegaram, houve um grande festival de canto, dança e música instrumental. Em um momento auspicioso, exatamente como recomendam os Vedas, o Raja-pandita, com muita alegria, decorou a fronte do Senhor com tilaka perfumada. Nesse momento, enquanto os músicos tocavam, todos exclamaram: “Jaya! Jaya! Hari! Hari!”. As castas esposas presentes cantavam de forma comovente. Esse cantar, combinado com os instrumentos musicais, trouxe grande bem-aventurança.



Assim foi celebrada a auspiciosa cerimônia adhivasa. Terminados todos os seus deveres, o Raja-pandita, Sri Sanatana Misra, retornou à sua casa. Em um momento auspicioso, os parentes do Senhor também fizeram uma cerimônia adhivasa similar para Visnupriya. Toda a ritualística matrimonial tradicional naquele contexto foi observada com grande jovialidade pelo casal divino. Na manhã seguinte, ao nascer do sol, o Senhor Caitanya Se banhou no Ganges e então foi diretamente para o templo adorar o Senhor Visnu. Em seguida, acompanhado de Seus parentes mais próximos, o Senhor satisfez Seus ancestrais oferecendo-lhes respeito. Também nessa cerimônia nandimukha, o humor festivo estava presente, com músicos, dançarinos e cantores. Auspiciosas exclamações de “Jaya! Jaya!” tomavam as quatro direções. A porta da casa, seu interior e o terreno ao seu redor estavam todos decorados. Havia belos desenhos no chão, e potes d’água, grãos, iogurte, lamparinas e folhas de mangueira por toda a parte. Nas quatro direções, havia bananeiras e bandeiras tremulantes de diversas cores. A atmosfera estava embevecida com o entusiasmo de festa. Acompanhada pelas castas e fiéis mulheres de Navadvipa, Mãe Saci alegremente observou todos os rituais tradicionais.



Primeiramente, elas se banharam no Ganges. Então, acompanhadas pelos músicos, elas visitaram a deidade local, sasthi, e oraram pelas bênçãos dela. Do templo, as mulheres acompanharam Saci na visita a seus parentes, e, por fim, voltaram para suas respectivas casas. Às mulheres que a acompanharam, Mãe Saci distribuiu arroz inflado, cachos de banana, óleo, nozes de bétel e sindura vermelho – o que as deixou completamente satisfeitas. Pelo desejo e poder do Senhor Supremo, não havia escassez de coisa alguma, e Saci pôde, portanto, dar esses presentes cinco ou sete vezes a cada mulher. Nenhuma daquelas mulheres estava de forma alguma insatisfeita. Elas alegremente untaram seus corpos com óleo e então se banharam. A casa de Laksmidevi também se encontrava em estado de grande bem-aventurança, com sua mãe completamente tomada de júbilo. Por dar sua filha, o seu maior tesouro, ao Senhor Gaurasundara, o Raja-pandita também tinha seu coração transbordando em êxtase.



Depois de finalizados todos os rituais, o Senhor Caitanya sentou-Se para descansar por um instante. Ali, o Senhor distribuiu alimento e vestimentas a todos os brahmanas e ofereceu reverências a cada um deles. O Senhor deu presentes condizentes com cada pessoa e também ofereceu respeitos de acordo com a posição de cada um. Todos os brahmanas abençoaram o Senhor Caitanya e então foram embora muito satisfeitos. À tarde, os parentes do Senhor foram à Sua casa para vesti-lO e adorná-lO para o casamento à noite. Eles decoraram todo o Seu corpo com pasta de sândalo e aplicaram perfumes aromáticos em diferentes partes de Seu corpo. Em Sua testa, eles desenharam com pasta de sândalo fragrante uma tilaka em formato de meia lua. Uma graciosa coroa brilhava sobre Sua cabeça, e uma guirlanda de flores perfumadas pendia de Seu pescoço. Um esplêndido dhoti de seda, de um brilho dourado similar ao pôr do sol, foi peritamente vestido na cintura do Senhor; e Seus olhos de lótus estavam maquiados com kajjala negro como o mangangá. Ele segurava grama durva e broto de bananeira para a auspiciosidade do evento. Brincos de ouro balançavam dependurados do lóbulo de Suas orelhas, enquanto outras jóias decoravam Seus braços e Seu pescoço. Cada um dos parentes do Senhor O decorou de acordo com o seu gosto, dispondo diferentes tipos de jóias em diferentes partes do corpo de Nimai. Tanto homens quanto mulheres ficavam maravilhados diante da sofisticada beleza do Senhor e logo se esqueciam de si mesmos.



Três horas se passaram dessa maneira. A uma hora do horário marcado para o casamento, decidiu-se que o Senhor deveria começar a ir para a casa da noiva: “Iniciemos a gloriosa procissão. Até chegar à casa de Sua noiva, Nimai irá desfilar pela cidade por uma hora”. Assim, com grande felicidade, Buddhimanta Khan trouxe um belíssimo palanquim. Então um tumultuoso cantar e tocar de instrumentos musicais repentinamente ganhou espaço. Juntamente, os brahmanas puseram-se a recitar os auspiciosos mantras dos Vedas. Com os poetas também recitando orações, a bem-aventurança se fez presente em todas as quatro direções. Depois de circum-ambular Sua mãe, o Senhor ofereceu Suas reverências aos brahmanas ali presentes. Quando o Senhor tomou o palanquim como Seu assento, ouviram-se por toda parte as exclamações de “Jaya! Jaya!”. As mulheres também ululavam vibrações auspiciosas. Não havia nenhum outro som em nenhuma direção.



A procissão começou por ir à beira do Ganges. A lua crescente, quase cheia, dependurava-se no céu e se espelhava nas águas de Gangadevi. Milhares e milhares de lamparinas haviam sido acesas, e seus portadores faziam-nas dançar de diferentes maneiras. À frente do palanquim do Senhor, os empregados de Buddhimanta Khan caminhavam em duas filas. Atrás deles, homens enguirlandados ostentavam bandeiras de diferentes cores. Também na passeata, bufões com roupas multicoloridas faziam brincadeiras e suscitavam risos. Eu desconheço o número de dançarinos ali presentes, mas todos dançavam com grande contentamento seus diferentes estilos de dança. Os músicos tocavam jayatakas, viratakas, mrdangas, kahalas, patahas, dagadas, búzios, flautas, karatalas, varangas, singas e outros dos cinco tipos de instrumentos. Não me é possível descrever todos os instrumentos que tocavam. Centenas de milhares de crianças dançavam entregues à atmosfera festiva. Vendo a dança delas, o Senhor sorria. Na presença do alegre dançar das crianças, mesmo os cidadãos mais velhos abandonaram sua natureza reservada e também se puseram a dançar.



Sem o cessar do canto, da dança ou da música, eles pararam às margens do Ganges antes de prosseguirem para a casa da noiva. Então, depois de oferecidas flores e reverências a Mãe Ganga, a empolgada procissão seguiu para a cidade. Tinham o coração completamente arrebatado todos os que presenciavam a opulência dessa festividade matrimonial – estando tal opulência muito além da que uma pessoa ordinária pode exibir. “Vi em minha vida muitos casamentos opulentos e grandiosos”, comentou um homem na multidão, “mas jamais imaginei testemunhar algo assim”. Todos os olhares voltavam-se em direção a Nimai sobre o palanquim. Por verem diretamente com seus próprios olhos o Senhor Supremo em pessoa, todos os homens e mulheres se afogavam desamparadamente em bem-aventurança. Todos os brahmanas que tinham filhas belas e solteiras em casa lamentaram. “Sou certamente muito desafortunado por não poder ter dado a mão de minha filha a esse belo rapaz. Mas o que posso fazer?”. Ofereço minhas respeitosas reverências aos pés de todos os residentes de Navadvipa que testemunharam esse extasiante passatempo do Senhor. Assim foi que o Senhor, em grande felicidade, desfilou por todas as diferentes localidades de Navadvipa.



Finalmente, com o pôr do sol, o Senhor chegou à casa do Raja-pandita, Sri Sanatana Misra. Todos saíram da casa. Sem que os músicos deixassem de tocar seus instrumentos, uma tumultuosa exclamação de interjeições festivas se fez. O amor do Raja-pandita por Nimai era visível. Com grande respeito, ele auxiliou o Senhor a descer do palanquim e O conduziu para o interior da casa, onde um assento Lhe aguardava. Desejando-Lhe boas-vindas, ele derramava muitas flores sobre o Senhor. O Raja-pandita estava tão feliz enquanto olhava para seu genro que esqueceu completamente de seu corpo. A comitiva de recepção da noiva consistia de muitos brahmanas que haviam trazido roupas, jóias e outros presentes valiosos para o Senhor. Presenteando-O com padya, arghya, acamaniya, roupas e ornamentos, eles receberam o Senhor apropriadamente. Então, acompanhada por muitas outras mulheres, a esposa do Raja-pandita observou os rituais auspiciosos. A mãe da noiva colocou grama durva sobre a cabeça do Senhor e então Lhe ofereceu aratik com sete lamparinas de ghi. Jogando sobre Ele moedas e arroz inflado, ela exclamava palavras de vitória. Assim ela observou os rituais tradicionais.



Nesse momento, Laksmidevi, que havia sido sofisticadamente vestida e decorada, foi trazida por Sua mãe e recebeu um assento. De acordo com o costume, os parentes de Nimai O levantaram do chão e depois O colocaram de volta em Seu assento. Também de acordo com o costume, eles suspenderam uma cortina ao redor do Senhor, e Laksmidevi então O circum-ambulou por sete vezes. Ao término da sétima volta, Ela parou diante do Senhor e Lhe ofereceu reverências. Então houve uma grande chuva de flores e pétalas sobre o casal, e os dois grupos de músicos começaram a tocar seus instrumentos. Toda a atmosfera foi tomada pela bem-aventurança das interjeições de vitória acompanhadas pela música que se ouvia nas quatro direções. Oferecendo a Si mesma dessa maneira, Laksmidevi, a mãe de todos os mundos, acomodou uma guirlanda sobre os pés de lótus do Senhor. O Senhor Caitanya, sorrindo afetuosamente, pegou a guirlanda e a colocou ao redor do pescoço de Laksmidevi. Então, Sri Sri Laksmi-Narayana foram mais uma vez cobertos por uma chuva de flores e pétalas. Invisíveis às pessoas comuns, o senhor Brahma e outros semideuses também estavam ali e derramavam flores sobre o casal.



A comitiva do Senhor Gaurasundara competia com a de Laksmidevi quanto a qual delas podia produzir mais sons auspiciosos. Absortos nessa competição, todos se esqueceram de suas preocupações pessoais. Algumas vezes era a comitiva do Senhor que parecia vencer, e outras vezes a comitiva de Laksmidevi parecia ser a mais empolgada. Rindo com grande satisfação, Nimai os encorajava a exclamarem cada vez mais alto. Direcionando seus olhares para a sorridente face do Senhor, todos nadavam em um oceano de bem-aventurança transcendental. Milhares e milhares de lamparinas brilhavam. Não se podia ouvir nada além da música e do extasiante cantar que tomavam todo o ar atmosférico.



Quando foi chegado o momento do Senhor Caitanya e de Laksmidevi trocarem olhares, o universo parecia completamente tomado por tumultuosa música e gritos regozijantes. O casal divino, Sri Gaurasundara e Laksmidevi, sentaram-Se lado a lado. Então, com um coração de alegria transbordante, o Raja-pandita ofereceu sua filha ao Senhor. Após oferecer apropriadamente padya, arghya e acamaniya, ele formalmente declarou sua intenção. Desejoso de satisfazer Visnu, o Raja-pandita ofereceu ao Senhor tanto sua filha como orações. Em seguida, ele também ofereceu um dote com muitas terras e propriedades, servos, criadas, camas e outras mobílias, e vacas repletas de leite. Com Laksmidevi sentada à esquerda do Senhor, os brahmanas acenderam o fogo para o início do yajna.



Depois que todos os ritos tradicionais haviam terminado, o noivo e a noiva entraram em uma sala maravilhosamente decorada. A casa do Raja-pandita foi transformada em Vaikuntha, e todos os convidados se sentaram para desfrutar do maravilhoso banquete que seria servido. Quando o banquete teve fim, os recém-casados passaram a noite juntos na casa de Laksmidevi. A felicidade de Sanatana Pandita não pode ser descrita com palavras. Ele experimentava a mesma boa fortuna provada no passado por grandes personalidades como Nagnajit, Janaka, Bhismaka e Jambavan, que também foram sogros do Senhor. Terem servido o Senhor Visnu com grande esmero em suas vidas passadas é a razão para que Sanatana Pandita e seus parentes estivessem desfrutando agora de tamanha bem-andança.



O casal divino passou a noite e também a manhã do dia seguinte na casa de Sanatana Pandita. À tarde, o Raja-pandita e seus parentes despediram-se do Senhor Gaurasundara e de Visnupriya. Em meio às bênçãos dos brahmanas, ao som de vários instrumentos e cantar de mantras, Nimai ofereceu Seus respeitos aos membros mais velhos da família de Seu sogro e então, sobre um palanquim, partiu com Sua esposa para a casa de Mãe Saci. Com todos exclamando “Hari! Hari!”, um glorioso tumulto tornou-se manifesto. Assim foi que Nimai, o melhor dos brahmanas, deixou a casa de Seu sogro.



Todos que viam o Senhor desfilando pelas ruas respeitosamente exclamavam: “Magnífico! Magnífico!”. Quando viam o casal, as mulheres diziam: “Por quantas vidas essa jovem deve ter adorado Laksmi e Parvati para ser merecedora de tão grande boa fortuna?”. Outras comentavam: “Eles são como Siva e Gauri”. Enquanto outras diziam: “Talvez Eles sejam Laksmidevi e o Senhor Hari”. “Eles são Kamadeva e Rati”, uma mulher opinou. “Para mim”, especulou outra, “Eles são Indra e Saci”. “Acredito que Eles são Ramacandra e Sitadevi”, comentou uma outra. Dessa maneira conversavam entre si as moças piedosas. Pelo fato de poderem ver os passatempos do Senhor Supremo e de Sua consorte eterna, é impossível dizer o quão afortunados e piedosos eram os habitantes de Nadiya. Todos os homens e mulheres eram enlevados pelos auspiciosos olhares de Sri Sri Laksmi-Narayana. Por todo lugar pelo qual passava o casal divino sobre Seu palanquim, havia música, canto, dança e chuva de flores e pétalas.



Por fim, em um momento auspicioso, os recém-casados chegaram à casa de Mãe Saci. Então, acompanhada por muitas outras mulheres castas, Mãe Saci alegremente conduziu seu filho e sua nora para dentro de casa. Em meio a música e interjeições de felicidade, Sri Sri Laksmi-Narayana aceitaram um assento. Como alguém poderia descrever a bem-aventurança de Mãe Saci e de todos os demais na presença de Visnupriya e Gaura-hari? Tamanha é a grandeza do Senhor Supremo que a simples contemplação de Seu brilho corpóreo livra a pessoa de todo pecado e a torna elegível a ser transferida para um dos planetas Vaikuntha. Como todas as pessoas de todas as diferentes formações e criações podiam ver o Senhor e Sua refulgência espiritual, Ele é chamado de o mais misericordioso (dayamaya) e o único Senhor das almas caídas (dina-natha).



Com a distribuição de roupas e dinheiro, bem como de palavras agradáveis, o Senhor satisfez todos os dançarinos, músicos, poetas e mendicantes. Aos amigos e parentes brahmanas, o Senhor deu presentes suficientes para satisfazer a cada um deles e também a Si mesmo. Já Buddhimanta Khan foi presenteado com um abraço muito afetuoso – esse abraço de Nimai o conduziu a um êxtase indescritível.



De acordo com a literatura védica, não há começo tampouco fim para os passatempos do Senhor Supremo. Quem, mesmo que discursasse por mil anos, poderia descrever integralmente os passatempos de que o Senhor desfruta em apenas metade de uma hora? Quanto a mim, apresento apenas brevíssimas descrições, e só posso fazê-las em virtude da misericórdia de Nityananda Prabhu, cujas instruções sempre carrego comigo. Todo aquele que ler ou ouvir estas atividades transcendentais do Senhor Supremo certamente se tornará um associado eterno do Senhor Gauracandra.



Os Senhores Caitanya e Nityananda são minha vida e alma. Eu, Vrndavana dasa, ofereço minha humilde canção a Seus pés de lótus.





Tradução de Bhagavan dasa (DvS), revisão de Naveen Krishna dasa (RnS), Prana-vallabha devi dasi (DvS) e Prema-vardhana devi dasi (DvS)

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