segunda-feira, 24 de maio de 2010

Dia 26 – Aparecimento de Sri Nrisimhadeva


Dia 26 – Aparecimento de Sri Nrisimhadeva






Orações Selecionadas de Prahlada Maharaja ao Senhor Nrisimhadeva
Srimad-Bhagavatam, Canto 7, Capítulo 9






Prahlada Maharaja

Ó pessoa grandiosa, ó Senhor Supremo, devido ao contato com circunstâncias agradáveis e desagradáveis e devido ao fato de ter que se separar delas, todos são postos em condições das mais deplorá­veis, vivendo em planetas celestiais ou infernais, como se estivessem ardendo num fogo de lamentação. Embora haja muitos remédios que ajudem alguém a escapar da vida miserável, todos esses remé­dios encontrados no mundo material são mais miseráveis do que as próprias misérias. Portanto, creio que o único remédio é ficar ocupado em Vosso serviço. Por favor, instruí-me nesse serviço. 9-17



Meu Senhor Nrisimhadeva, ó Supremo, devido ao conceito de vida corpórea, as almas corporificadas, desamparadas por Vós, nada podem fazer em prol de sua melhora. Todos os remédios que venham a aceitar, embora talvez produzam benefícios temporários, decerto são impermanentes. Por exemplo, o pai e a mãe não podem prote­ger o filho; o médico e o remédio não podem aliviar o sofrimento do paciente; e o barco no oceano não pode proteger um homem que se afoga. 9-19



Meu querido Senhor, agora conheço sobejamente o que vêm a ser opulência mundana, poderes místicos, longevidade e outros pra­zeres materiais desfrutados por todas as entidades vivas, desde o Senhor Brahma até a formiga. Como o tempo poderoso, destruís todos eles. Portanto, devido à minha experiência, não desejo possuí­los. Meu querido Senhor, peço-Vos que me coloqueis em contato com Vosso devoto puro e permiti que eu o sirva como um servo sin­cero. 9-24



Neste mundo material, toda entidade viva deseja alguma felicidade futura, que é exatamente como uma miragem no deserto. Onde encontrar água num deserto, ou, em outras palavras, onde encon­trar felicidade neste mundo material? Quanto a este corpo, qual o seu valor? Ele é mera fonte de várias doenças. Os supostos filóso­fos, cientistas e políticos sabem disto muito bem, entretanto, aspiram à felicidade temporária. A felicidade é muito difícil de ser obtida, porém, como são incapazes de controlar os sentidos, eles buscam a aparente felicidade material e nunca chegam à conclusão correta. 9-25



Meu querido Senhor, ó Suprema Personalidade de Deus, devido à minha associação com sucessivos desejos materiais, eu estava pouco a pouco caindo num poço camuflado, cheio de serpentes, seguindo o populacho. Mas Vosso servo, Narada Muni, bondosamente acei­tou-me como discípulo e instruiu-me sobre como alcançar esta po­sição transcendental. Portanto, meu primeiro dever é servi-lo. Como poderia eu deixar de servi-lo? 9-28



Meu querido Senhor, sozinho, Vós Vos apresentais sob a forma de toda a manifestação cósmica, pois existíeis antes da criação, existis após a aniquilação, e sois o mantenedor desde o começo até o fim. Tudo isso é levado a efeito por Vossa energia externa através das reações dos três modos da natureza material. Portanto, tudo o que existe — externa e internamente — é apenas Vossa pessoa. 9-30



Meu querido Senhor dos planetas Vaikuntha, onde não há ansiedade, minha mente é muitíssimo pecaminosa e luxuriosa, às vezes, aparentando ser feliz, e, outras vezes, infeliz. Minha mente está re­pleta de lamentação e medo, e sempre busca mais e mais dinheiro. Portanto, ela tornou-se muito contaminada e nunca fica satisfeita com tópicos referentes a Vós. Por conseguinte, sou muito pobre e caído. Nesta condição em que vivo, como serei capaz de comentar Vossas atividades? 9-39



Ó melhor das grandes personalidades, não temo nem um pouquinho a existência material, pois, em qualquer lugar onde eu per­maneça, estarei plenamente absorto em pensar em Vossas gloriosas atividades. Fico preocupado apenas com os tolos e patifes que andam às voltas com planos elaborados, através dos quais procuram obter felicidade material e manter suas famílias, sociedades e países. Estou preocupado com eles porque lhes quero bem. 9-43



Meu querido Senhor Nrisimhadeva, vejo que, na verdade, existem muitas pessoas santas, mas elas estão interessadas unicamente em sua própria liberação. Não se preocupando com as grandes ci­dades e províncias, elas, sob voto de silêncio [mauna-vrata], vão aos Himalaias ou às florestas para meditar. Elas não estão interessadas em libertar os outros. Quanto a mim, entretanto, não quero me li­bertar sozinho e deixar de lado todos esses pobres tolos e patifes. Sei que, sem consciência de Krishna, sem refugiar-se nos Vossos pés de lótus, ninguém pode ser feliz. Portanto, desejo trazer todos de volta ao refúgio de Vossos pés de lótus. 9-44



* jejum até o pôr do sol

terça-feira, 18 de maio de 2010

Doutor Elias Serra participa do ciclo de palestras "O Caminho de Santiago 2010 - Cultura e Espiritualidade"


No dia 20 de maio, quinta-feira, o doutor em filosofia românica pela Universidade Complutense de Madrid, Elias Serra, participa do ciclo de palestras "O Caminho de Santiago 2010 - Cultura e Espiritualidade". Ele irá falar sobre peregrinar aos 40 anos- as recordações de um peregrino.



Segundo Elias, até a década de 80, antes que a propaganda religiosa, política e comercial convertesse o Caminho de Santiago em uma grande oferte turística, ele era um percurso em que o silêncio e a solidão eram ainda o estímulo principal do peregrino.

O encontro tem entrada franca e será realizado às 19h30 na sede do Instituto Cervantes de Belo Horizonte (Praça Milton Campos, 16- 2º andar). Informações: (31)3789-1600.





Caminho de Santiago

O Caminho de Santiago entrou para a história no século IX, quando foram encontrados os restos mortais do apóstolo Tiago, ou, Santiago, onde hoje é a cidade de Santiago de Compostela. Nas últimas décadas voltou a ganhar prestígio, sendo redescoberto como uma alternativa de turismo e convertido num itinerário espiritual e cultural de primeira ordem. Percorrendo diversas cidades medievais e campos pitorescos, é um destino para qualquer tipo de pessoa, não precisando ser religiosa mas que esteja disposta a caminhar muito. Em 1987 foi declarado Primeiro Itinerário Cultural Europeu. Em 1993, Patrimônio da Humanidade na Espanha, e, em 1998, na França.

Venha comemorar o aparecimento de Sri Nrisimhadeva, o protetor dos devotos!






Venha comemorar o aparecimento de Sri Nrisimhadeva, o protetor dos devotos! Esta forma de Deus, metade leão, metade humano, veio há milhões de anos atrás para proteger seu estimado devoto Prahladha Maharaja.

A data oficial deste festival é 26/05, porém a comemoração foi transferida para o dia 30/05, domingo às 15hs. Convidamos a todos a participar e trazer suas oferendas para O Protetor dos Devotos!

Local: Templo Hare Krishna de Curitiba
Rua Duque de Caxias, 76
Como chegar http://www.harekrishnacuritiba.com/?q=node/284

Caminho Vaikuntha no dia 26/05


show Caminho Vaikuntha no dia 26/05 às 21hs no auditório Brasílio Itiberê. Neste show será apresentada a peça Shikshastaka, que inclui dança, música e poesia, além de apresentações de música clássica indiana e rock progressivo. A entrada para o show é gratuita.


Local: Auditório Brasílio Itiberê
R. Cruz Machado, 138

terça-feira, 11 de maio de 2010

O Propósito do Grhastha-Asrama


O Propósito do Grhastha-Asrama



The Purpose of Grhastha Asrama



Sua Santidade Giriraj Svami



A maioria dos devotos é casada (grhastha), e, além disso, o grhastha-asrama é a base de todos os outros asramas – e das vidas de nossos filhos. Queremos, portanto, que o grhastha-asrama seja tão forte quanto possível.



Quando entrei para o templo de Boston em 1969, éramos todos muito jovens e poucos de nós éramos casados. E éramos tão novos na consciência de Krsna e tão dependentes de Srila Prabhupada que lhe pedíamos orientações em todo âmbito. Uma das devotas, Balai dasi, havia se casado recentemente e não estava certa quanto a como deveria ser sua relação com seu esposo. Ela perguntou a Srila Prabhupada, e ele respondeu: “Assim como a mão direita tem uma relação com a mão esquerda através do corpo, você tem uma relação com seu esposo através de Krsna, com Krsna no centro”. Aqui está a mão direita, e aqui está a mão esquerda, mas o que as conecta é o corpo. Neste exemplo, as mãos direita e esquerda são o esposo e a esposa, e o corpo é Krsna.



Tínhamos de mudar a nossa consciência, Prabhupada nos disse, e colocar Krsna no centro. Isso, ele disse, faria toda a diferença. Quando o nosso falso ego é o centro, temos muitíssimos problemas, mas, quando Krsna está no centro, nossas relações se tornam harmoniosas.



Viemos para o mundo material por invejarmos Krsna. Queremos tomar a posição de Krsna e ser o desfrutador, o controlador, o proprietário. Esta é a nossa disposição na existência condicionada. E, quando viemos para o mundo material, acabamos por competir não apenas com Krsna, mas também com muitíssimos outros competidores de Krsna. E essa disposição egoísta pode entrar em casa. Competimos para ser os desfrutadores, os controladores e os proprietários, e isso leva a conflitos – muitíssimos deuses de imitação lutando pela supremacia.



Através do processo da consciência de Krsna, a nossa identificação corpórea, nossa falsa identificação, é substituída pela compreensão de nossa verdadeira identidade como gopi-bhartuh pada-kamalayor dasa-dasanudasah – servo do servo do servo do servo de Krsna, o mantenedor das gopis.



Quando um discípulo perguntou a Srila Prabhupada: “O que devemos fazer quando há conflitos entre os devotos?”, ele respondeu, “se cada devoto pensa: ‘Sou o servo do servo do servo de Krsna’, então não haverá conflito”. O mesmo princípio se aplica ao lar. Se cada membro familiar pensa e sente: “Sou servo do servo do servo de Krsna”, as relações serão muito cordiais. Mas isso requer uma revolução na consciência. Estamos no mundo material porque queremos ser o mestre do mestre dos mestres, e essa mentalidade nos conduz à frustração, ao desapontamento, à morte – a repetidos nascimentos e mortes. Tornarmo-nos servos do servo dos servos de Krsna conduz-nos à felicidade e à liberação última.



Pouco tempo depois da primeira vez que me encontrei com Srila Prabhupada e os devotos, como um estudante universitário em Boston, ouvi que o mestre espiritual de Srila Prabhupada, Srila Bhaktisiddhanta Sarasvati Thakura, havia dito que, quando você vem para a consciência de Krsna, você se livra do fardo do desfrute. Eu estava sentindo exatamente esse fardo, porque, em todo final de semana, havia uma competição muito forte em relação a quem desfrutaria mais. À medida que o final de semana ia se aproximando, os estudantes – e às vezes a faculdade também – faziam planos de como desfrutar. Esses planos incluíam ir a restaurantes, a cinemas, shows, festas, boates – muitíssimos planos. Eu não gostava verdadeiramente de nenhuma dessas atividades, e, para mim, era um fardo ter de desfrutar como os outros. E então os alunos perguntavam uns aos outros: “O que você fez? O que você fez?”. “Ah, eu fui a uma festa. Todos ficamos bêbados e...”. “Ah, tive um encontro e...”.



A declaração de que, quando você se torna devoto, você se livra do fardo do desfrute ressoava dentro de mim. Era-me artificial tentar desfrutar daquela maneira. Era artificial porque, como almas, nosso verdadeiro prazer vem de nossa relação com a Alma Suprema. O amor verdadeiro existe apenas em relação a Krsna. O Bhakti-rasamrta-sindhu define amor puro (prema) como o centramento de todos os sentimentos e de todas as propensões amorosas pessoais em Visnu, ou Krsna.



ananya-mamata visnau mamata prema-sangata
bhaktir ity ucyate bhisma- prahladoddhava-naradaih



“Quando alguém desenvolve um indesviável sentimento de propriedade ou posse em relação ao Senhor Visnu, ou, em outras palavras, quando alguém considera Visnu, e ninguém mais, como o único objeto de amor, tal despertar é chamado de bhakti [devoção] pelas personalidades elevadas, como Bhisma, Prahlada, Uddhava e Narada”. – Bhakti-rasamrta-sindhu 1.4.2, Cc Madhya 23.8



Há uma oração muito bela oferecida pela rainha Kunti ao Senhor Krsna:



atha visvesa visvatman visva-murte svakesu me
sneha-pasam imam chindhi drdham pandusu vrsnisu



“Ó Senhor do universo, alma do universo, ó personalidade da forma do universo, por favor, portanto, desfazei meu laço de afeição por meus parentes, os Pandavas e os Vrsnis”. – Srimad-Bhagavatam 1.8.40



tvayi me ’nanya-visaya matir madhu-pate ’sakrt
ratim udvahatad addha gangevaugham udanvati



“Ó Senhor de Madhu, assim como o Ganges sempre flui sem obstáculos para o oceano, que minha atração seja constantemente voltada a Vós, sem divergir-se para ninguém mais”. – Srimad-Bhagavatam 1.8.41



À medida que nos tornamos sérios na consciência de Krsna, esta realmente se torna a nossa oração: “Que meu amor flua em direção a Krsna sem impedimentos, assim como o Ganges flui para o oceano”.



Estas declarações – “Por favor, desfazei meus apegos por meus membros familiares. Que meu amor flua exclusivamente em direção a Vós sem se divergir para ninguém mais” – levantam algumas questões: E quanto a outros relacionamentos? O que acontece com meus relacionamentos com meus amigos e familiares?



Em seu significado, Srila Prabhupada apresenta um ponto muito interessante. Ele diz que os membros familiares de Kunti eram devotos de Krsna. Seus membros familiares por parte de pai, os Vrsnis, eram devotos, e seus filhos, os Pandavas, eram devotos. E afeição pelos devotos não é algo fora da jurisdição da consciência de Krsna, do serviço devocional puro. Assim, quando Kunti ora: “Por favor, desfazei meus laços de afeição por meus parentes”, ela quer dizer que deseja que a afeição baseada no corpo seja cortada.



“Sua afeição pelos Pandavas e os Vrsnis não está fora do escopo do serviço devocional porque o serviço ao Senhor e o serviço aos devotos são idênticos. Algumas vezes, o serviço ao devoto é mais valioso do que o serviço ao Senhor. Mas, aqui, a afeição de Kunti pelos Pandavas e os Vrsnis era devido à relação familiar. Esse elo de afeição em termos de relação material é a relação de maya porque as relações do corpo ou da mente se devem à influência da energia externa. Relações da alma, estabelecidas em relação à Alma Suprema, são relações verdadeiras. Quando Kuntidevi quis cortar a relação familiar, ela se referia a cortar a relação da pele. A relação de pele é a causa do condicionamento material, mas a relação da alma é a causa da liberdade. Essa relação de alma com alma pode ser estabelecida pela mediação da relação com a Superalma”. – Srimad-Bhagavatam 1.8.41, significado



Há duas categorias de afeição – uma baseada no corpo e uma baseada na alma, alma com alma, através da mediação da Superalma, a Alma Suprema. Quando Kunti diz: “Por favor, desfazei meus laços de afeição por meus parentes”, ela se refere à afeição que se baseia no corpo: de modo que apenas a afeição baseada na alma permaneça. A afeição baseada no corpo conduz ao condicionamento e à morte, enquanto que a afeição baseada na alma conduz à liberação e à vida eterna.



Portanto, não temos que abandonar nossos relacionamentos familiares, mas queremos purificá-los. Queremos que o aspecto material, que é baseado no corpo, torne-se cada vez menos proeminente, e que o aspecto espiritual, que é baseado na alma, por meio da Alma Suprema, torne-se cada vez mais proeminente. E, quanto mais a dimensão espiritual de nossos relacionamentos se tornam proeminentes, mais apropriados se tornam para a nossa felicidade e para o nosso sucesso último na vida.



Uma autoridade no assunto do matrimônio disse: “O casamento não se destina a fazer você feliz. Ele se destina a fazer você casado, e, uma vez que você esteja segura e totalmente casado, você tem uma estrutura de segurança e apoio a partir da qual você pode encontrar sua própria felicidade”. Estamos aqui, portanto, para trabalharmos os nossos casamentos. Não estamos iludidos de que o casamento por si nos trará felicidade, mas queremos trabalhar os nossos casamentos de forma que possamos atuar bem como partes de uma unidade, a unidade familiar, e, dentro da paz relativa e relativo apoio mútuo dessa unidade, encontrar nossa própria felicidade interior, que é a única felicidade verdadeira que existe.



A relação marital também provê a base para as crianças do casal se desenvolverem na consciência de Krsna e serem felizes. Algum tempo mais tarde, Srila Prabhupada escreveu a Balai: “Nos casamentos materialistas, geralmente há muitíssimos problemas e frustrações porque o princípio básico tanto para o esposo quanto para a esposa é sua própria gratificação sensorial pessoal. Por conta disso, inevitavelmente há conflito e pedido de divórcio. Mas, no casamento consciente de Krsna, o princípio básico é que tanto o esposo como a esposa sirvam Krsna bem e ajudem o parceiro a avançar na vida espiritual. Desta maneira, ambos o marido e a esposa são verdadeiros benfeitores um para o outro e não há questão de nenhum conflito sério ou separação. Portanto, estou certo de que, por ter pais tão excelentes que são devotos do Senhor Krsna, sua filha Nandini é muito, muito afortunada. No Bhagavad-gita, Krsna nos instrui que alguém nascer na família dos devotos significa que essa pessoa foi a mais piedosa de todas as entidades vivas. Assim, crie Nandini muito zelosamente na consciência de Krsna, e Krsna certamente outorgará todas as bênçãos a você e à sua família”.



Estes corpos materiais são simplesmente vestes para a alma. Nossas identidades baseadas no corpo e na mente são temporárias e ilusórias. Nossas identidades reais são como servos amorosos de Krsna e de Seus devotos, e o que quer que estejamos fazendo aqui no mundo material é prática para a nossa vida eterna no mundo espiritual, onde serviremos Krsna e Seus devotos em amor extático. Como Srila Prabhupada disse, se um aluno do ensino médio está fazendo trabalho de nível universitário, ele pode ser promovido para a universidade. Então, se estamos no mundo material, mas estamos ocupados nas atividades do mundo espiritual, podemos ser promovidos ao mundo espiritual. A atividade básica do mundo espiritual, que inclui o cantar dos santos nomes e das glórias de Sri Krsna, é prestar serviço amoroso a Krsna e a outros servos de Krsna. E o grhastha-asrama é uma situação apropriada para praticar o serviço amoroso, que pode nos qualificar para o serviço amoroso eterno no mundo espiritual.



Hare Krsna.





Tradução de Bhagavan dasa (DvS)

domingo, 9 de maio de 2010

Feliz Dia das Mães!




Em Goa, na pequena vila de Marcel, encontra-se o único templo dedicado a Mãe de Krishna, Devaki. Essa é linda Deidade de Devaki com Krishna.









Foto de uma imagem de Devaki e Vasudeva, segurando Krishna, esculpida em pedra, do Século 5, hoje no Museu Nacional de Nova Delhi

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Viagra ou Vairagya: Onde Está a Bem-aventurança?



Viagra or Vairagya: Where's the Bliss?


Arcana-siddhi devi dasi


Sentei-me à mesa de jantar com alguns de meus colegas para nos despedirmos de um funcionário. Logo fui lembrada da razão pela qual tendo a não estar presente em semelhantes encontros. Como usual, a conversa, por fim, volta-se ao assunto do sexo.



Mimi, uma mulher de cinqüenta e oito anos, fala sobre seus esforços por preservar uma vida sexual ativa com seu parceiro, Phil. Ele está tomando o afrodisíaco Viagra, e eu ouço casualmente enquanto Mimi fala muito empolgadamente sobre sua renovada vida sexual. Viagra, na estimativa dela, é um milagre.

“Viagra ou vairagya”, eu penso, lembrando-me do recente trocadilho de meu esposo.



Vairagya significa renunciar voluntariamente uma coisa a fim de obter algo de valor maior. Uma história da Índia ilustra este princípio muito bem. Quinhentos anos atrás, Sanatana Gosvami, um grande devoto do Senhor, possuía uma pedra filosofal. Era dito que essa pedra podia converter metal em ouro. Um homem pobre, ouvindo que Sanatana possuía tamanho tesouro, foi buscar por ele. Ao aproximar-se de Sanatana Gosvami, ele perguntou sobre a pedra filosofal. Sanatana disse-lhe que ele podia pegá-la na pilha de lixo.



Porque o homem tinha alguma inteligência, ele concluiu que, se Sanatana havia se desfeito daquele item valiosíssimo, ele tinha de possuir algo de valor superior. O homem então se aproximou submissamente de Sanatana Gosvami e perguntou que coisa superior ele possuía.



Sanatana barganhou com o homem, dizendo que lhe daria a coisa superior se o homem jogasse fora a pedra filosofal. O homem condescendeu prontamente, e Sanatana Gosvami deu-lhe o cantar dos santos nomes do Senhor: Hare Krsna, Hare Krsna, Krsna Krsna, Hare Hare/ Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare.



O homem na história alegremente abandonou algo inferior (e material) por algo superior (e espiritual). Isto é vairagya. Quando Srila Prabhupada introduziu a consciência de Krsna no Ocidente, ele não começou enfatizando vairagya; ele não insistiu que abandonássemos tudo imediatamente. Ele foi tão amável que nos deu o santo nome e não nos pediu que renunciássemos nossas pedras filosofais como um pré-requisito para o cantar. Mas vairagya veio por conta própria. À proporção que praticávamos o cantar do maha-mantra, nosso gosto pelas atividades materiais gradualmente diminuía e éramos capazes de abandonar muitos hábitos indesejáveis. Muitos devotos facilmente abandonam carne, jogos de azar e intoxicação, três das quatro principais proibições. Eles abandonam o sexo ilícito também, mas isso é mais difícil, porque o desejo sexual é muito profundamente enraizado. Livrarmo-nos dele leva tempo. Esta é uma das razões para a maioria dos devotos entrarem na vida familiar, escolhendo educar filhos conscientes de Deus ao invés de permanecerem celibatários.



Embora o sexo seja permitido dentro do casamento, ele deve ser regulado e, por fim, abandonado. Não-devotos e até mesmo devotos frequentemente questionam por que algo aparentemente tão bom e íntimo precisa ser eliminado de seu repertório de atividades. Krsna está sendo desamável conosco exigindo tamanho sacrifício? Não, Krsna quer que logremos um prazer muito maior, mas ele não pode ser auferido enquanto permanecermos apegados aos prazeres corpóreos. O nosso maior interesse é trabalharmos no abandonamento do sexo de maneira que possamos transcender a limitada esfera material das atividades temporárias.



Ajuda da Natureza



Krsna designou nossos corpos a fim de nos ajudar a gradualmente deixarmos o desejo sexual. À medida que progredimos ao longo dos estágios biológicos do desenvolvimento humano, nossa habilidade sexual naturalmente decai. Infelizmente, vivemos hoje em uma sociedade loucamente sexual, e uma mídia provocativa nos estimula artificialmente, constantemente bombardeando-nos com imagens eróticas. Mesmo enquanto inocentemente aguardamos na fila do caixa de uma mercearia, somos abordados por capas de revista com fotos de homens e mulheres seminus. Duas das muitas conseqüências sociais são que as crianças pré-adolescentes se tornam interessadas em sexo e que os idosos são incitados a encontrar maneiras de redespertar suas inclinações sexuais em declínio.



Muitas pessoas concordarão que promiscuidade infantil é algo indesejado, mas essas mesmas pessoas apoiarão o prolongamento da atividade sexual em sua vida. Elas gostariam de poderem satisfazer os desejos sexuais, os quais persistem mesmo na velhice.



O desejo sexual é tão forte que, sem treino espiritual, mesmo uma pessoa morrendo pensará em sexo. A fim de atestar esta declaração, Prabhupada conta a história de um rei e seu ministro. Quando o rei perguntou ao seu ministro quando o desejo por sexo terminaria, o ministro respondeu que ele dura até a morte.



O rei duvidou da resposta do ministro. Querendo provar o seu ponto, o ministro levou o rei e a jovem filha do rei a uma visita a um homem em seu leito de morte. O homem era um súdito leal, e, sem dúvidas, ficaria felicíssimo com uma visita por parte do rei. Todavia, quando o rei e sua filha entraram no quarto, os olhos do homem prestes a morrer focalizaram-se, não na face do rei, mas na mocinha jovem e atrativa.



Alguém talvez questione por que os desejos sexuais na hora da morte são ruins. As escrituras Védicas informam-nos que nossos pensamentos e desejos no instante da morte carregam-nos para o nosso próximo destino. Pensar em sexo na hora da morte garante o nosso retorno ao mundo material. Porque os nossos pensamentos no momento da morte são naturalmente uma composição das atividades e desejos de nossa vida, uma preocupação com sexo pode significar a obtenção de um corpo mais apropriado ao desfrute sexual, como o corpo de macaco ou de pombo. Ambas as espécies podem fazer sexo muitas vezes ao dia sem qualquer culpa ou inibição.



Logo quando me tornei devota, compartilhei com um amigo próximo o conhecimento da transmigração da alma de um corpo a outro de acordo com os nossos desejos no momento da morte. Infelizmente, ele não pôde perceber o mal em nos tornarmos um pombo ou um macaco. Lamentei que ele estivesse tão apegado a sexo que tenha gostado da idéia de cair em espécies inferiores e sem chance de desenvolvimento espiritual.



Escolhendo Vairagya



Idealmente, se passamos nossa vida cultivando desejos espirituais mediante a prática de atividades espirituais, seremos transportados para o nosso lar espiritual eterno. Se esta é a nossa meta, escolheremos vairagya. Escolheremos voluntariamente abandonar coisas que impeçam o nosso progresso. E escolheremos aceitar coisas que nos ajudam a desenvolver nosso adormecido amor pelo Senhor. Para muitos seguidores do caminho de bhakti, a renúncia é gradual. À dimensão que avançamos no caminho e nossas realizações e nosso gosto pelas atividades espirituais crescem, nós naturalmente deixamos para trás atividades materialistas. Em seu significado ao verso 3.31 do Bhagavad-gita, Srila Prabhupada nos diz que, mesmo se nós não podemos imediatamente seguir uma instrução particular de abandonar atividades materiais; enquanto não nos ressentirmos do princípio, progrediremos gradualmente no caminho da perfeição.



Não se trata de um endossamento do comportamento materialista contínuo, mas antes serve de encorajamento para que continuemos tentando, sem perder a esperança. Krsna é plenamente ciente de quão difícil é para nós progredirmos na conquista do desejo sexual. Eis porque Ele enviou tanta ajuda, especialmente na forma de nosso mestre espiritual Srila Prabhupada, que peritamente compreendeu nossas mentalidades. Enquanto pregando no Ocidente, Prabhupada simplificou o processo de bhakti-yoga de sorte a acomodar nosso estilo de vida e nossa consciência maculada. Ele escreveu muitos livros tornando a literatura Védica acessível a nós e encorajando seus discípulos a também escreverem suas realizações.



Krsna também enviou Seus santos nomes. Sendo idênticos a Ele, Seus nomes têm o poder de transformar nossa mentalidade mundana em consciência transcendental. Os santos nomes convertem nossos sentimentos de luxúria em amor puro. Eles removem a mente da abjeta ignorância e nos iluminam com conhecimento. Os nomes podem nos libertar das algemas da vida sexual, a força atadora do mundo material.



Sim, sexo é uma coisa aparentemente tão maravilhosa que estamos dispostos a sacrificar o reino de Deus por ela. Estamos dispostos a nos espremer no ventre de uma mãe novamente e viver o trauma do nascimento. Estamos dispostos a ser bebês indefesos sofrendo de fome, indigestão e brotoejas causadas por fraldas. Estamos dispostos a ser crianças escolares novamente, forçadas a permanecer sentados por longas horas do dia aguardando o sinal tocar para sermos libertos. Estamos dispostos a sofrer pela constrangedora adolescência com acne e aparelhos dentários. Estamos dispostos a sermos pais novamente e passar a noite toda acordados com um bebê doente, e novamente criar um adolescente insubordinado. Estamos dispostos a envelhecer com dores excruciantes em nossas juntas e órgãos. Estamos dispostos a fazer tudo isso repetidas vezes simplesmente para desfrutar alguns poucos momentos da sensação física aprazível chamada sexo.



Esta insanidade aflige-nos todos. Temos de orar pelo “desejo de ter o desejo de desejar” nos tornarmos livres da ânsia sexual. Também temos a responsabilidade de dar conhecimento aos outros – pessoas como Mimi, que está convencida de que encontrou o milagre da vida no Viagra. O nosso milagre é entrarmos em contato com um devoto puro que nos deu a coisa mais valiosa: os santos nomes do Senhor.





Tradução de Bhagavan dasa

domingo, 2 de maio de 2010

Aborto e a Linguagem do Inconsciente



Aborto e a Linguagem do Inconsciente Abortion and the Language of Unconsciousness



Sua Graça Ravindra Svarupa dasa



Em A Política e a Língua Inglesa, um ensaio publicado em 1946, George Orwell mostrou como a escrita e o discurso político, que, ele disse, são “em geral, a defesa do indefensável”, corrompem a linguagem através de prolixidade, expressões de uso desgastado, imprecisão, ambigüidade e eufemismo. O intento do escritor ou orador, Orwell disse, é ocultar o que ele está de fato dizendo – ocultar inclusive de si mesmo. Por exemplo: “Vilas indefesas são bombardeadas por aviões, os habitantes conduzidos para a zona rural, o gado metralhado, as choupanas reduzidas a cinzas por meio de munição incendiária: isto se chama pacificação. Milhões de camponeses são privados de suas fazendas e conduzidos exaustos pelas estradas com nada mais do que podem carregar: isto se chama transferência de população ou retificação de fronteiras. Pessoas são aprisionadas por anos sem direito a julgamento, ou baleadas na nuca ou enviadas para morrer de escorbuto em explorações florestais nas regiões árticas: isto se chama eliminação de elementos instáveis. Semelhante fraseologia é necessária se alguém quer nomear coisas e eventos sem evocar imagens mentais dos mesmos”.



O ensaio de Orwell tornou-se famoso, mas isso não inibiu oficiais americanos de usar esses mesmos eufemismos durante a Guerra do Vietnam.



Mais recentemente, ofereceu-se ao público americano uma dramatização da lição de Orwell no programa televisivo de grande ibope Holocausto, do diretor Marvin Chomsky. Um personagem principal na história era Eric Dorf, um advogado jovem e brilhante que se tornou proeminente no SS principalmente em virtude de seu talento em manufaturar eufemismos. Dorf chamou os guetos nos quais os judeus eram confinados de “Territórios Judaicos Autônomos”; a remoção dos judeus para campos de extermínio ele chamou de “reassentamento” e “relocação”; o assassinato de judeus em massa ele chamou de “manejo especial”. Deste modo, Dorf proveu ao SS uma maneira de falar sobre suas atividades sem fazer com que eles mesmos e seus ouvintes tivessem inapropriadamente a consciência do que estavam verdadeiramente fazendo.



“Linguagem política”, escreveu Orwell, “é produzida a fim de fazer com que mentiras pareçam verdades, e assassinatos, algo respeitável”. Todavia, nem o ensaio de Orwell nem a popularização de sua lição em Holocausto parece ter detido o uso da linguagem política. Ela continua atendendo uma grande necessidade. Um exemplo particular da contemporaneidade americana é muito elucidativo.



A questão política aqui é o aborto. Aborto, porém, é uma palavra feia e brutal, pois o que ela nomeia é feio e brutal. Um outdoor anunciando ABORTO com letras de um metro de altura chocaria a nossa sensibilidade. Mas não somos desnecessariamente conscientizados do serviço oferecido quando lemos INTERRUPÇÃO DE GESTAÇÃO. Eis uma amostra de linguagem política com todo o seu primor. Um conjunto de desgraciosas palavras polissilábicas é substituído por uma palavra curta e direta. A nova expressão astutamente afasta o fato de que uma vida é findada sugerindo que apenas uma gravidez o é. A expressão, nas palavras de Orwell, “cai sobre os fatos como neve macia, obscurecendo os contornos e cobrindo todos os detalhes”.



Ademais, quando a mãe decide que alguém interromperá sua gestação – isto é, abortará seu feto – ela, em momento algum, ouve algo tão claro e ofensivo como o fato de que a morte de uma criança ocorrerá. Ao invés disso, ela ouve que o tecido será removido, uma expressão que confortavelmente coloca a operação no nível do cortar de uma unha encravada ou da remoção de uma verruga ou outra excrescência qualquer.



Obviamente, algum Eric Dorf anônimo está trabalhando diligentemente, fazendo um serviço necessário.



O próprio fato de os abortistas refugiarem-se na linguagem política é, em si mesmo, um forte argumento contra o que defendem. Não haveria necessidade para eufemismo se não houvesse nada a ser escondido. A denúncia da enganação apenas mostra quão afoitas as pessoas estão para se tornarem destituídas de consciência em relação aos seus atos. Embora, no coração, reconheçam a auto-enganação, prosseguem com o artifício, pois a clareza de consciência seria insuportável.



Orwell constatou que, quando a linguagem é corrompida, o pensamento é corrompido, a consciência é corrompida – o povo é corrompido. Aprimorar a linguagem é aprimorar os seres humanos. Contudo, o aparecimento da linguagem política entre aqueles que advogam a favor do aborto mostra especialmente quão difícil é o problema. A maior parte dos abortistas é liberal e, como tal, alegam serem sensíveis ao tipo de linguagem necessária para a totalitária burocratização do mal. Eles, acima de tudo, ouviram Orwell. Infelizmente, contudo, eles são suscetíveis à mesma corrupção. As expressões interrupção de gestação e remoção do tecido devem ser adicionadas a pacificação, eliminação de elementos instáveis e manejo especial como parte da particular contribuição de nosso tempo para a corrupção da vida humana.



Suspeito, entretanto, que alguém advogando a favor do aborto acusaria o meu caso de ser petitio principii e afirmaria que tenho de lidar com questões mais substanciais do que a linguagem. As expressões interrupção de gestação e remoção do tecido, os abortistas diriam, são de alguma maneira eufêmicas, mas são mais do que isso. A mãe buscando por um aborto fez uma difícil escolha, e grande parte de sua dificuldade se deve ao seu condicionamento causado por uma especiosa perspectiva que trata o feto como uma pessoa e a destruição do mesmo como homicídio. Essa visão é baseada na idéia não científica de que o feto é uma pessoa em virtude de uma “alma”. Chamar o feto de tecido apenas enfatiza que tecido é tudo o que o feto de fato é, e tecido é tudo o que é destruído. Meu argumento pressupõe que o feto é uma pessoa, mas essa suposição é precisamente o que está sob questionamento.



Aqui, portanto, o aborto é justificado por uma visão de mundo que (apelando à autoridade da ciência) vê tudo na existência, inclusive os seres humanos, como surgido, em última instância, de combinações acidentais de matéria inconsciente e sem vida. Todos são familiarizados com essa posição. Como uma justificativa para o aborto, todavia, isso tem problemas. De acordo com essa visão, um óvulo fertilizado se torna um ser humano através de uma complexidade em estrutura orgânica gradualmente crescente. Porém, o ponto neste processo no qual a entidade é complexa o bastante para ser chamada de “humano” é reconhecidamente arbitrário. Qualquer número de critérios pode ser selecionado por qualquer número de razões. Uma vez aceito o princípio que reduz os seres humanos a complexidades de matéria, uma forte conjetura foi feita de que uma criança se torna humano apenas após o nascimento – por exemplo, após ter desenvolvido as conexões neurais associadas à linguagem. O ponto é que nós decidimos, arbitrariamente, se queremos ou não reconhecer alguns seres como humanos. Afinal, a mesma filosofia reducionista que diminui um feto ao status de tecido também nos reduz a tecidos. Somos, todos nós, nada mais do que tecido. Contudo, porque escolhemos matar a criança não nascida, apresentamos o ponto de chamá-la de “tecido”. Se escolhermos matar outros, poderíamos classificá-los como “tecidos” também. Aqueles mentalmente retardados são “tecidos”? Os idosos e os enfermos são “tecidos”? É claro que são, e, se decidirmos que é muito dispendioso e incômodo cuidar deles (ou, na linguagem política, que “envolve alto custo social”), começaremos a chamá-los de “tecido” e solicitaremos que sejam “interrompidos”.



Estamos de volta à linguagem. Facilita-nos matar pessoas se não pensarmos nelas como tal. Pela mágica da palavra, tornamo-nas menos do que humanos: “escória”, “bárbaros”, “mão-de-obra”, e, neste caso, “tecido”. Termos uma justificação filosófica para este procedimento apenas o torna pior. A linguagem de Eric Dorf baseou-se na filosofia de que os judeus não eram humanos e de que matá-los não era assassinato – mas apenas “manejo especial”, como dispor do estoque indesejado de um armazém.



A questão lingüística e a questão substancial realmente chegam ao mesmo ponto: despersonalização. Historicamente, a despersonalização começou pela natureza. Antes que a natureza pudesse ser conquistada e explorada, ela precisava ser despersonalizada. Enquanto se acreditasse que a natureza era controlada por forças pessoais, o indivíduo tinha de aplacar e satisfazer a natureza através de expiação e sacrifício. Os poderes eram mais fortes do que os homens, e facilmente ofendidos; o indivíduo tinha de ser cuidadoso e subserviente; na melhor das hipóteses, o controle era indireto e precário. Mas a visão mecanicista do mundo como nada senão estruturas de matéria morta impulsionadas por forças impessoais invariáveis tornou possível uma tecnologia para a dominação humana direta e para o controle sobre a natureza.



Esta despersonalização, na verdade, já começou com o cristianismo, que baniu os deuses pagãos e os incontáveis espíritos locais de bosques e riachos e montanhas. O cristianismo reconheceu uma única Deidade transcendental inteiramente separada de Sua criação. A natureza, por conseguinte, perdeu tanto seu caráter pessoal como seu caráter sagrado. Na verdade, com o cristianismo, a parte não humana da criação tornou-se uma espécie de anomalia; ela não tinha significado em si mesma, mas antes era meramente a cortina de fundo para o drama central humano da rendição. Apenas os humanos tinham almas imortais, e todo o excesso de vida furiosa e intrincada que, de outra forma, enche o mundo era um adendo ininteligível, com significado apenas quando servindo a algum fim humano. O mundo, então despersonalizado e dessacralizado, podia então ser tratado inteiramente como uma coisa, como um objeto para estudo solto e para manipulações mecânicas de uma ciência impessoal.



Houve algum sucesso neste empenho, e naturalmente surgiu o questionamento: Por que a humanidade em si deveria ser única, categoricamente diferente do resto da criação? Se as leis são universais e a natureza é uma unidade, por que os seres humanos não deveriam se sujeitar às mesmas categorias de explicação que abarcam todo o resto? E, no que diz respeito a Deus – Deus já era visto como essencialmente desconectado da criação, tão transcendente que não podíamos formar absolutamente nenhuma idéia positiva apropriada acerca dEle, e a visão do mundo como um campo de forças impessoais operando de acordo com leis imutáveis O tornou ainda mais remoto e, finalmente, irrelevante. Deus foi eclipsado, e a humanidade não mais era única.



A vida humana em si estar se tornando cada vez mais impessoal e mecanicista é simplesmente o último estágio neste desenvolvimento histórico. Despersonalizamos a natureza; despersonalizamos Deus; agora estamos ocupados na despersonalização de nós mesmos. O domínio da visão mecanicista e reducionista do mundo em nossa cultura assegura que o processo continuará. Embora as pessoas continuamente se queixem de que são tratadas como coisas, essas mesmas pessoas aceitam inteiramente a visão do mundo que as transforma em coisas. Eis por que a visão pesadelar da sociedade transformada em um coletivo numerado de robôs escravizados a rotinas estúpidas por uma burocracia inescrutável ou por um líder remoto e onipotente assombra-nos com persistente e grande força. É algo genuinamente profético, pois o futuro já está em nós. Nós aceitamos todas as condições para isso, e agora temerosamente aguardamos a manifestação.



O estabelecimento do aborto traz o pesadelo para mais perto da realidade. Talvez temamos o crescimento da despersonalização da vida, mas justificar a morte de uma criança não nascida porque ela não é nada além de tecido é dar mais um terrível passo adiante nessa despersonalização.



Despersonificar significa matar, insensibilizar a vida; significa transformar o que é vital em algo inerte e mecânico; significa uma perda de consciência. É importante compreender isto profundamente, porque traz à tona o fato de que ninguém pode despersonalizar outros sem, ao mesmo tempo, despersonalizar-se. Aqueles que tornam uma criança não nascida menos do que humana tornam-se, por conseqüência, menos do que humanos, e impensadamente revelam isso adotando a linguagem que é produzida com o fim de promover a falta de consciência. O próprio Orwell particularmente observou que um palestrante de linguagem política assemelha-se mais a um fantoche do que um vivente ser humano: ele “já está a caminho de tornar-se uma máquina” e entrou em “um estado reduzido de consciência”. Redução de consciência define precisamente a regressão da raça humana.



Uma vida humana progressiva é um contínuo combate contra a inconsciência. A inconsciência caracteriza a morte, o inerte; estar plenamente vivo significa estar plenamente consciente. O aprimoramento da consciência é o triunfo da vida sobre a morte, do espírito sobre a matéria. Despersonalização, inconsciência, ameaça tudo de valor que a vida humana pode lograr. Contudo, já fomos, por algum tempo, reduzidos em consciência. A despersonalização de Deus e da natureza foram passos significativos em direção à nossa própria despersonalização; ver Deus e a natureza como insencientes é uma função de nossa própria senciência reduzida.



Antes que possamos fazer algo em relação à despersonalização, temos que compreender sua causa. A despersonalização é necessária para que dominemos e desfrutemos o outro. Quando eu, um sujeito consciente, reconheço outrem como um sujeito consciente como eu, as variantes de relações que temos são o que chamamos de relações pessoais, baseadas em um respeito mútuo pela subjetividade um do outro. Caso, todavia, eu me determine a dominar outrem a fim usar essa pessoa como um instrumento para o meu gozo pessoal, então a transformo em um objeto, mero meio. A pessoa se torna meramente uma ferramenta a ser manipulada e controlada. Eu não considero que o outro tenha significado por si mesmo, e, deste modo, perco a consciência do outro como uma pessoa. Um dono de fábrica interessado apenas em lucro, por exemplo, não considerará verdadeiramente seus empregados humanos como tais; eles são meramente ferramentas de trabalho, fatores em uma equação econômica, bens úteis. De forma similar, as mulheres são exploradas pelo homem quando o homem as considera apenas como objetos de desfrute, meros instrumentos. O explorador de trabalhadores ou de mulheres despersonaliza-os, mas, no processo, ele despersonalizou a si mesmo, pois se tornou inconsciente. Assim incapacitado, ele não é capaz de experimentar relações pessoais, em virtude do que esvaziou de significado sua própria vida.



Destarte, o impulso para satisfazer apetites humanos causa a despersonalização e a inconsciência. Todas as relações humanas nas quais este impulso é um fator são, nessa extensão, corrompidas, e o suposto desfrutador, com sua consciência diminuída, priva-se da única fonte real de felicidade: relações genuinamente pessoais, as quais ampliam a consciência e a vida em si, o que não pode ser feito por nada mais.



Por esta razão, temos de aceitar a conclusão difícil, embora inevitável, de que a despersonalização e a inconsciência só podemos ser eliminadas por meio da eliminação do desejo de desfrutar de outros indivíduos. Uma vez que esse desejo encontra-se muitíssimo enraizado, sua erradicação requereria um tipo muito fundamental de reforma humana. Isto talvez pareça radical, mas não deveria ser surpreendente. Vemos como a permanente intromissão de despersonalização e inconsciência em nossas vidas – exemplificada em nossa aceitação do aborto – é função de uma visão de mundo fundamental e há muito estabelecida. Emendas constitucionais, legislação e medidas similarmente superficiais não mudarão isto, senão que a visão de mundo impessoal e mecanicista precisa ser abandonada. Isto, entretanto, só acontecerá se pudermos nos livrar do desejo de tornar o outro um instrumento de nosso próprio desfrute.



A única visão de mundo que conheço que é completamente pessoal, que vê tanto Deus como todos os confraternais seres vivos como irredutivelmente conscientes e pessoais, é ensinada pelo Senhor Krsna no Bhagavad-gita e elaborada no Srimad-Bhagavatam. Segundo essa visão, não apenas humanos – e fetos humanos – são almas: todos os seres vivos são almas: A alma é minúscula, mas é uma entidade espiritual eterna com a consciência como sua característica principal. As almas ocupam corpos de matéria; elas são a força viva. Assim, não há criatura viva sem significância por si mesma. Uma pessoa que tenha se tornado completamente consciente devido a seguir as direções do Bhagavad-gita vê isso, e não irá explorar nenhuma criatura para o seu gozo. Seu amor é irrestrito e desimpedido.



Uma pessoa consciente não matará sequer animais, muito menos humanos muitíssimo jovens, para o seu prazer ou conveniência. Certamente a inconsciência e a brutalidade que nos permitem erigir fábricas de morte para os animais assentam a base para tratarmos os humanos da mesma maneira.



A idéia de que a vida é a propriedade das almas é derrisoriamente referida pelos pensadores mecanicistas como “vitalismo” ou “animismo”. Eles alegam que não há evidência para as almas. Não obstante, é uma falha singular na ciência materialista a incapacidade de demonstrar como, de um mundo composto de nada além de matéria, às vezes surge uma matéria que pode experienciar. Ademais, a habilidade de perceber almas não é possuída por todos – não é possuída, em particular, por aqueles que se tornaram inconscientes em razão de sua mentalidade exploradora. Uma sociedade cujo ideal é reduzir tudo a objetos exploráveis não produzirá muitas pessoas conscientes o bastante para ver o que é vivo e pessoal. Tal sociedade avançará apenas na crescente obscuridade da inconsciência e da impessoalidade.



Apesar de tudo, é possível neutralizar esta corrupção de nossa experiência, esta brutalização da consciência que aniquila nossa habilidade de entrar em relações pessoais e condena-nos a uma existência absurda e insípida em um mundo cadavérico e desalmado. Não temos que ser vítimas dos políticos da inconsciência.



De acordo com o Bhagavad-gita, o desejo de controlar e desfrutar o outro não é natural em nós. O desejo em si é o sintoma da vida; o desejo é natural, mas, em seu estado original, esse desejo se manifesta como irrestrito amor a Deus, Krsna, a Pessoa Suprema – e, através dEle, a todas as outras pessoas, que vêm dEle e que são partes dEle. Somente em nosso estado de inconsciência nos esquecemos do verdadeiro objeto de nosso amor e permitimos que o nosso amor se transforme em luxúria, no desejo de explorar o outro visando nossos propósitos egoístas. Esta transformação pode ser revertida.



O método prático mediante o qual se converte luxúria em amor, inconsciência em consciência, chama-se bhakti-yoga. Esta yoga redireciona o uso dos sentidos, removendo-os do dominar e desfrutar o outro, e coloca-os no serviço a Krsna, que é o mestre natural dos sentidos. No curso desse serviço devocional, todas as potencialidades da alma se tornam manifestas. Experimentamos o verdadeiro prazer da consciência plena, da vida sem limitação ou qualificação. Este avanço para a consciência completa e para relações pessoais desimpedidas é a meta da vida humana.



Muito embora a consciência seja uma opção viva, o futuro da sociedade humana ainda parece gélido. A aceitação do aborto é uma grande vitória para os políticos da inconsciência. Todavia, diferentemente das milhões de crianças inocentes que ela impiedosamente destruiu, não temos de nos tornar infelizes vítimas suas. Não temos de sucumbir a essa monstruosa negação da vida. Aceitemos o convite de Krsna e reingressemos no mundo do vivente.





Tradução de Bhagavan dasa (DvS)

Livros em Áudio



Livros em Áudio: Muitas vezes a correria nos deixa sem tempo para estudar os livros sagrados, algo que é essencial para o progresso em consciência de Krishna. Pensando nisso (e nos deficientes visuais), disponibilizamos os mais importantes escritos de Sua Divina Graça A. C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada em MP3. Já temos disponível o 1º Canto do Srimad Bhagavatam, o Sri Isopanishad e o Livro “Krsna, A Suprema Personalidade de Deus”! Os arquivos podem ser baixados gratuitamente aqui: http://pt.krishna.com/main.php?id=399.

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