quinta-feira, 6 de maio de 2010

Viagra ou Vairagya: Onde Está a Bem-aventurança?



Viagra or Vairagya: Where's the Bliss?


Arcana-siddhi devi dasi


Sentei-me à mesa de jantar com alguns de meus colegas para nos despedirmos de um funcionário. Logo fui lembrada da razão pela qual tendo a não estar presente em semelhantes encontros. Como usual, a conversa, por fim, volta-se ao assunto do sexo.



Mimi, uma mulher de cinqüenta e oito anos, fala sobre seus esforços por preservar uma vida sexual ativa com seu parceiro, Phil. Ele está tomando o afrodisíaco Viagra, e eu ouço casualmente enquanto Mimi fala muito empolgadamente sobre sua renovada vida sexual. Viagra, na estimativa dela, é um milagre.

“Viagra ou vairagya”, eu penso, lembrando-me do recente trocadilho de meu esposo.



Vairagya significa renunciar voluntariamente uma coisa a fim de obter algo de valor maior. Uma história da Índia ilustra este princípio muito bem. Quinhentos anos atrás, Sanatana Gosvami, um grande devoto do Senhor, possuía uma pedra filosofal. Era dito que essa pedra podia converter metal em ouro. Um homem pobre, ouvindo que Sanatana possuía tamanho tesouro, foi buscar por ele. Ao aproximar-se de Sanatana Gosvami, ele perguntou sobre a pedra filosofal. Sanatana disse-lhe que ele podia pegá-la na pilha de lixo.



Porque o homem tinha alguma inteligência, ele concluiu que, se Sanatana havia se desfeito daquele item valiosíssimo, ele tinha de possuir algo de valor superior. O homem então se aproximou submissamente de Sanatana Gosvami e perguntou que coisa superior ele possuía.



Sanatana barganhou com o homem, dizendo que lhe daria a coisa superior se o homem jogasse fora a pedra filosofal. O homem condescendeu prontamente, e Sanatana Gosvami deu-lhe o cantar dos santos nomes do Senhor: Hare Krsna, Hare Krsna, Krsna Krsna, Hare Hare/ Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare.



O homem na história alegremente abandonou algo inferior (e material) por algo superior (e espiritual). Isto é vairagya. Quando Srila Prabhupada introduziu a consciência de Krsna no Ocidente, ele não começou enfatizando vairagya; ele não insistiu que abandonássemos tudo imediatamente. Ele foi tão amável que nos deu o santo nome e não nos pediu que renunciássemos nossas pedras filosofais como um pré-requisito para o cantar. Mas vairagya veio por conta própria. À proporção que praticávamos o cantar do maha-mantra, nosso gosto pelas atividades materiais gradualmente diminuía e éramos capazes de abandonar muitos hábitos indesejáveis. Muitos devotos facilmente abandonam carne, jogos de azar e intoxicação, três das quatro principais proibições. Eles abandonam o sexo ilícito também, mas isso é mais difícil, porque o desejo sexual é muito profundamente enraizado. Livrarmo-nos dele leva tempo. Esta é uma das razões para a maioria dos devotos entrarem na vida familiar, escolhendo educar filhos conscientes de Deus ao invés de permanecerem celibatários.



Embora o sexo seja permitido dentro do casamento, ele deve ser regulado e, por fim, abandonado. Não-devotos e até mesmo devotos frequentemente questionam por que algo aparentemente tão bom e íntimo precisa ser eliminado de seu repertório de atividades. Krsna está sendo desamável conosco exigindo tamanho sacrifício? Não, Krsna quer que logremos um prazer muito maior, mas ele não pode ser auferido enquanto permanecermos apegados aos prazeres corpóreos. O nosso maior interesse é trabalharmos no abandonamento do sexo de maneira que possamos transcender a limitada esfera material das atividades temporárias.



Ajuda da Natureza



Krsna designou nossos corpos a fim de nos ajudar a gradualmente deixarmos o desejo sexual. À medida que progredimos ao longo dos estágios biológicos do desenvolvimento humano, nossa habilidade sexual naturalmente decai. Infelizmente, vivemos hoje em uma sociedade loucamente sexual, e uma mídia provocativa nos estimula artificialmente, constantemente bombardeando-nos com imagens eróticas. Mesmo enquanto inocentemente aguardamos na fila do caixa de uma mercearia, somos abordados por capas de revista com fotos de homens e mulheres seminus. Duas das muitas conseqüências sociais são que as crianças pré-adolescentes se tornam interessadas em sexo e que os idosos são incitados a encontrar maneiras de redespertar suas inclinações sexuais em declínio.



Muitas pessoas concordarão que promiscuidade infantil é algo indesejado, mas essas mesmas pessoas apoiarão o prolongamento da atividade sexual em sua vida. Elas gostariam de poderem satisfazer os desejos sexuais, os quais persistem mesmo na velhice.



O desejo sexual é tão forte que, sem treino espiritual, mesmo uma pessoa morrendo pensará em sexo. A fim de atestar esta declaração, Prabhupada conta a história de um rei e seu ministro. Quando o rei perguntou ao seu ministro quando o desejo por sexo terminaria, o ministro respondeu que ele dura até a morte.



O rei duvidou da resposta do ministro. Querendo provar o seu ponto, o ministro levou o rei e a jovem filha do rei a uma visita a um homem em seu leito de morte. O homem era um súdito leal, e, sem dúvidas, ficaria felicíssimo com uma visita por parte do rei. Todavia, quando o rei e sua filha entraram no quarto, os olhos do homem prestes a morrer focalizaram-se, não na face do rei, mas na mocinha jovem e atrativa.



Alguém talvez questione por que os desejos sexuais na hora da morte são ruins. As escrituras Védicas informam-nos que nossos pensamentos e desejos no instante da morte carregam-nos para o nosso próximo destino. Pensar em sexo na hora da morte garante o nosso retorno ao mundo material. Porque os nossos pensamentos no momento da morte são naturalmente uma composição das atividades e desejos de nossa vida, uma preocupação com sexo pode significar a obtenção de um corpo mais apropriado ao desfrute sexual, como o corpo de macaco ou de pombo. Ambas as espécies podem fazer sexo muitas vezes ao dia sem qualquer culpa ou inibição.



Logo quando me tornei devota, compartilhei com um amigo próximo o conhecimento da transmigração da alma de um corpo a outro de acordo com os nossos desejos no momento da morte. Infelizmente, ele não pôde perceber o mal em nos tornarmos um pombo ou um macaco. Lamentei que ele estivesse tão apegado a sexo que tenha gostado da idéia de cair em espécies inferiores e sem chance de desenvolvimento espiritual.



Escolhendo Vairagya



Idealmente, se passamos nossa vida cultivando desejos espirituais mediante a prática de atividades espirituais, seremos transportados para o nosso lar espiritual eterno. Se esta é a nossa meta, escolheremos vairagya. Escolheremos voluntariamente abandonar coisas que impeçam o nosso progresso. E escolheremos aceitar coisas que nos ajudam a desenvolver nosso adormecido amor pelo Senhor. Para muitos seguidores do caminho de bhakti, a renúncia é gradual. À dimensão que avançamos no caminho e nossas realizações e nosso gosto pelas atividades espirituais crescem, nós naturalmente deixamos para trás atividades materialistas. Em seu significado ao verso 3.31 do Bhagavad-gita, Srila Prabhupada nos diz que, mesmo se nós não podemos imediatamente seguir uma instrução particular de abandonar atividades materiais; enquanto não nos ressentirmos do princípio, progrediremos gradualmente no caminho da perfeição.



Não se trata de um endossamento do comportamento materialista contínuo, mas antes serve de encorajamento para que continuemos tentando, sem perder a esperança. Krsna é plenamente ciente de quão difícil é para nós progredirmos na conquista do desejo sexual. Eis porque Ele enviou tanta ajuda, especialmente na forma de nosso mestre espiritual Srila Prabhupada, que peritamente compreendeu nossas mentalidades. Enquanto pregando no Ocidente, Prabhupada simplificou o processo de bhakti-yoga de sorte a acomodar nosso estilo de vida e nossa consciência maculada. Ele escreveu muitos livros tornando a literatura Védica acessível a nós e encorajando seus discípulos a também escreverem suas realizações.



Krsna também enviou Seus santos nomes. Sendo idênticos a Ele, Seus nomes têm o poder de transformar nossa mentalidade mundana em consciência transcendental. Os santos nomes convertem nossos sentimentos de luxúria em amor puro. Eles removem a mente da abjeta ignorância e nos iluminam com conhecimento. Os nomes podem nos libertar das algemas da vida sexual, a força atadora do mundo material.



Sim, sexo é uma coisa aparentemente tão maravilhosa que estamos dispostos a sacrificar o reino de Deus por ela. Estamos dispostos a nos espremer no ventre de uma mãe novamente e viver o trauma do nascimento. Estamos dispostos a ser bebês indefesos sofrendo de fome, indigestão e brotoejas causadas por fraldas. Estamos dispostos a ser crianças escolares novamente, forçadas a permanecer sentados por longas horas do dia aguardando o sinal tocar para sermos libertos. Estamos dispostos a sofrer pela constrangedora adolescência com acne e aparelhos dentários. Estamos dispostos a sermos pais novamente e passar a noite toda acordados com um bebê doente, e novamente criar um adolescente insubordinado. Estamos dispostos a envelhecer com dores excruciantes em nossas juntas e órgãos. Estamos dispostos a fazer tudo isso repetidas vezes simplesmente para desfrutar alguns poucos momentos da sensação física aprazível chamada sexo.



Esta insanidade aflige-nos todos. Temos de orar pelo “desejo de ter o desejo de desejar” nos tornarmos livres da ânsia sexual. Também temos a responsabilidade de dar conhecimento aos outros – pessoas como Mimi, que está convencida de que encontrou o milagre da vida no Viagra. O nosso milagre é entrarmos em contato com um devoto puro que nos deu a coisa mais valiosa: os santos nomes do Senhor.





Tradução de Bhagavan dasa

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