segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Srila Prabhupada é Recebido pelo Presidente do Cantão de Genebra


Transcrição da Bhaktivedanta Archieves



Srila Prabhupada é Recebido pelo Presidente do Cantão de Genebra


Genebra, hotel De Ville,

30 de maio de 1974



Guru-gauranga: (traduzindo do francês) Em nome do Cantão de Genebra, eu gostaria de dar nossas calorosas boas-vindas ao senhor. Esta república é um estado independente, parte da Suíça, e possui a reputação de ser um grande centro de diálogo entre todos os homens da ciência, da filosofia e da religião. Genebra é local do Conselho Mundial de Igreja, e há um pastor protestante que permanece lá como representante do Cantão de Genebra. Única entre as cidades do mundo, Genebra teve e tem o privilégio de receber muitos grandes líderes religiosos, como o papa Paulo VI, líder da Igreja Ortodoxa Russa, e muitos outros. Como autoridades civis, somos muito encorajados por grupos religiosos ou espirituais porque eles contribuem para o despertar da consciência das pessoas, contanto, é claro, que respeitem todas as leis. Por milhares de anos, o homem vem tentando encontrar a perfeição através de meios religiosos, e, para nós, o que é muito importante, é que isso seja feito com tolerância, que independente de quais sejam os livros, quer sejam os livros da Índia, quer a Torá ou o Corão, que eles contribuam para o bem-estar geral de todos os homens e que não lutem entre si. Existe a necessidade atualmente que todos os homens compreendam um ao outro melhor e ouçam um ao outro melhor. O mundo moderno não tem nem o tempo nem o interesse de tolerar divisões entre os homens, especialmente na plataforma espiritual. Como resultado, todos devem tentar aprimorar o destino do homem individual através desses meios. Não deveríamos, pois, tentar encontrar alguma linguagem comum com a qual solucionar esses problemas, a todo momento respeitando a dignidade do homem comum? E esperamos, finalmente, que esta viagem na Europa dê a Sua Divina Graça novas perspectivas na busca pela verdade.



Prabhupada: Posso falar em inglês?



Guru-gauranga: (fala em francês) O presidente diz que o senhor pode falar diretamente em inglês; nenhuma tradução é necessária.



Prabhupada: Então, Sr. Presidente e damas e cavalheiros, as bondosas palavras que falaram para receber-me, agradeço imensamente pelas mesmas. O nosso princípio de pregação é bhagavata-dharma, e não dizemos “Isto é religião cristã”, ou “religião hindu”, ou “religião maometana”. Falamos a ciência de Deus. Assim, no Srimad-Bhagavatam, há um verso que diz:



sa vai pumsam paro dharmo

yato bhaktir adhoksaje

ahaituky apratihata

yenatma samprasidati

[SB 1.2.6]



“Trata-se do sistema religioso de primeira classe aquele que ensina o seguidor a como amar Deus”. Não importa o tipo de religião, o processo religioso. Phalena pariciyate. A coisa é provada pelo resultado, como a pessoa aprendeu a amar Deus. Sa vai pumsam paro dharmah. Há dois tipos de ocupações religiosas: uma é chamada inferior e a outra é chamada superior. O sistema religioso superior é aquele que ensina os seguidores a como amarem Deus. Agora, que tipo de amor? Isso também é expresso aqui: ahaituki, sem qualquer motivação, e apratihata. Apratihata significa que o sistema religioso não pode ser estorvado por nenhum tipo de impedimento material. Se chegamos a essa plataforma, então atma—atma significa a mente, a alma, também o corpo, inteligência—tudo fica plenamente satisfeito.



Assim, este nosso princípio de ensinar é baseado no Bhagavad-gita. (aparte:) Dê-lhe o livro. Talvez vocês tenham ouvido o nome Bhagavad-gita, e alguns de vocês devem ter lido, Bhagavad-gita. O Bhagavad-gita foi falado no Campo de Batalha de Kuruksetra a grupos de primos-irmãos. Eles estavam lutando para ocupar o reino, e, nesse lugar, o Senhor Krsna, que é a Suprema Personalidade de Deus, aconteceu de estar presente como o quadrigário de um grupo, Arjuna. Assim, Arjuna estava tentando evitar a lutar porque, do outro lado, havia parentes, irmãos. Naquele momento, ele estava lamentando sua relação corpórea: “O outro lado é meu irmão, meu avô, meus sobrinhos, meus genros”. Assim, essa foi a plataforma de discurso do Bhagavad-gita. Assim, antes de tudo, Krsna explicou que: “Não somos este corpo”. A primeira instrução foi dada:



dehino ’smin yatha dehe

kaumaram yauvanam jara

tatha dehantara-praptir

dhiras tatra na muhyati

[Bg. 2.13]



A primeira instrução da vida espiritual é compreender que: “Não sou este corpo”. O exemplo é dado, algo muito simples, que eu estou presente, embora eu me lembre de que eu tinha um pequeno corpo repousado no colo de minha mãe. Eu me lembro, quando eu tinha seis meses de idade, eu estava deitado no colo da minha irmã mais velha, e ela estava tricotando. Eu ainda me lembro disso. Assim, todos, nós nos lembramos que tínhamos um corpo pequeno, e então outro corpo pequeno, então outro corpo pequeno. Esses corpos se foram. Tenho um corpo diferente agora, mas me lembro que eu tinha todos esses corpos. Portanto, a conclusão para o homem sóbrio deve ser que: “Embora tenhamos mudado de tantos corpos, eu, a pessoa, a alma, estou existindo”. Portanto, o Bhagavad-gita diz, tatha dehantara-praptih. Similarmente, quando eu for abandonar este corpo, aceitarei outro corpo. Este é o começo da compreensão, que: “Não sou este corpo. Estou vivendo neste corpo da mesma forma que não sou este casaco, mas estou vivendo dentro do casaco”. Há um exemplo muito vívido no Bhagavad-gita. Se lermos, podemos entender que: “Não sou este corpo. Sou alma espiritual”. Quando esta compreensão estiver presente, de que “sou alma espiritual”, aham brahmasmi... A palavra exata usada na literatura Védica, aham brahmasmi. Esse estágio tem que ser alcançado na forma humana de vida. Nas formas animais de vida, essa compreensão, de que: “Não sou este corpo. Sou alma espiritual”; no estágio animal de vida, não é possível compreender. Mas, na forma humana de vida, é possível, porque o ser humano é avançado em consciência e conhecimento, e, se ele for instruído, ele pode compreender. E se ele realmente compreende, então sua posição se torna brahma-bhutah, auto-realizado, prasannatma. Imediatamente ele se torna jubiloso. Não há mais nenhuma causa para melancolia. Este é o sintoma. Brahma-bhutah prasannatma na socati na kanksati [Bg. 18.54]. Então, não há mais ânsia ou lamentação. Samah sarvesu bhutesu. Nesse estágio, estágio brahma-bhutah, podemos ver todos (como) alma espiritual. Não vejo um americano ou um cavalheiro suíço ou um cavalheiro francês ou um gato ou um cão ou uma árvore, mas vejo a alma espiritual. Isso, nesse estado espiritual, estágio brahma-bhutah, samah sarvesu bhutesu, a pessoa pode ver que, dentro deste corpo, existe a alma espiritual, e ela quer trabalhar para o benefício da alma espiritual, não para o corpo temporário.



Assim, o nosso movimento da consciência de Krsna enquadra-se exatamente nos princípios deste Bhagavad-gita, compreender sua identidade, identidade espiritual. Panditah sama-darsinah.



vidya-vinaya-sampanne

brahmane gavi hastini

suni caiva sva-pake ca

panditah sama-darsinah

[Bg. 5.18]



Aquele que é verdadeiramente pandita... Pandita significa instruído, e, na (vida) espiritualmente embasada, ele vê que um estudioso muito instruído, brahmana, e um cachorro, um elefante, uma vaca ou um homem de nascimento baixo, criatura—todos na mesma plataforma de vida espiritual. Assim, a não ser que cheguemos a esse ponto, essas assim chamadas luta e sectarismo continuarão. Então, queremos ensinar às pessoas... Não apenas ao povo sectário da Índia ou ditos hindus ou muçulmanos ou cristãos. Todos. Porque todos são almas espirituais, e, tão logo ele compreenda que: “Não sou este corpo. Sou alma espiritual”, então ele se torna completamente feliz. Yenatma samprasidati. Desta maneira, as pessoas não serão felizes, não ficarão satisfeitas, a não ser e até que cheguem a essa compreensão espiritual. Assim, o nosso humilde método segue este princípio, de que: “Não sou este corpo. Sou alma espiritual”. E a alma espiritual é eterna; portanto, é preciso vir para a plataforma de felicidade eterna, vida eterna e completo conhecimento. Esta é a perfeição da vida. E qualquer tipo de religião—não importa qual—que ensine esta filosofia de vida, trata-se de um sistema religioso de primeira classe. Esta é a nossa conclusão.



Muito obrigado. Hare Krsna.



Guru-gauranga: (conversa com alguém em francês) O presidente gostaria de falar com o senhor por alguns minutos.



Prabhupada: Sim. Dê-me um pouco de água. (mais conversa em francês) Anteriormente, fui recebido pelo cardeal francês.



Guru-gauranga: Danielou.



Prabhupada: Daniel. (Francês)



Guru-gauranga: Ele diz que a discussão que o senhor teve com o cardeal foi muito interessante.



Prabhupada: Sim. A não ser que você chegue a essa posição de entendimento, que: “Não sou este corpo”, o conhecimento espiritual verdadeiro não começa. (conversa em francês)



Guru-gauranga: Compreendendo a filosofia, Monsieur le Président não entende por que julgamos necessário nos vestirmos de maneira diferente, entretanto.



Prabhupada: A veste diferente significa como você pagou. Assim como podemos ir a um alfaiate, (e) ele suprirá sua veste de acordo com o pagamento que você possa dar. Similarmente, de acordo com o nosso karma, de acordo com o nosso trabalho, recebemos um tipo de corpo pela natureza material. Isso é declarado no Bhagavad-gita. Prakrteh kriyamanani gunaih karmani sarvasah [Bg. 3.27]. De acordo... Porque, na verdade, não possuo este corpo material, mas, porque estou neste mundo material, recebo um tipo de corpo pela natureza material segundo o meu trabalho. (conversa em francês)



Guru-gauranga: Falando sobre roupas, Monsieur le Président diz que ele foi à Índia, e ele compreende que a pessoa se veste assim na Índia. Mas por que deveriam os discípulos se vestirem na América ou na Europa desta maneira? É necessário?



Prabhupada: Não. Não é necessário. A veste você pode usar como queira. Isso não importa, porque a veste é algo morto. A coisa verdadeira é que queremos um ser vivo que possa compreender. Essa é a posição verdadeira.



Guru-gauranga: Monsieur le Président gostaria de saber, caso este movimento cresça mais e mais, se isso não criaria problemas em termos de trabalho, a economia. A economia não sofreria se o nosso movimento crescesse cada vez mais?



Prabhupada: Não. A economia não sofrerá, mas a economia será simplificada, porque criamos uma economia artificial. Na verdade, no Bhagavad-gita, encontramos que o problema econômico é solucionado pela produção de grãos alimentícios. É declarado ali, annad bhavanti bhutani: “Comendo grãos alimentícios, tanto os animais quanto os homens, eles se tornam corpulentos e fortes”. Isso é fato. Segundo o Bhagavad-gita, o problema econômico pode ser solucionado em toda parte. Se você obtiver, se você tem um pouco de terra, você pode produzir seu grão alimentício e dá-lo aos animais, especialmente às vacas, e ela lhe dará leite em troca. Se você obtém leite, frutas, legumes e grãos alimentícios, todo o problema econômico está solucionado. Já iniciamos este exemplo em New Virginia. Um grupo de homens, temos cerca de quinhentos acres de terra, e mantemos vacas, e eles trabalham para produzir legumes e grãos alimentícios. Assim, eles não saem para solucionar os problemas econômicos. No momento presente—agora estou vindo da Índia—, em Bombaim, há uma greve, greve ferroviária. As pessoas estão em uma condição muito miserável para ir para os seus trabalhos 80 quilômetros, 60 quilômetros, centenas de quilômetros, para ganharem seu pão. Este tipo de situação econômica aumentou os problemas de vida. Ao contrário, se aceitamos esta solução ao problema econômico, então em qualquer lugar, em qualquer parte do mundo, você vive. Você não precisa sair, centenas de quilômetros, 650 quilômetros, 800 quilômetros. Não. Produzam seu alimento lá, mantenham os animais, então tudo está solucionado. Na verdade, o problema é, como declarado no Bhagavad-gita, janma-mrtyu-jara-vyadhi-duhkha-dosanudarsanam. Deve-se levar estes problemas muito a sério: nascimento, morte, velhice e doença. Assim... Na verdade, como alma espiritual, não temos nascimento, nem morte. Vocês encontrarão no Bhagavad, na jayate na mriyate va kadacit: “A entidade viva não nasce”. Na jayate na mriyate va: “Tampouco morre”. Na hanyate hanyamane sarire: [Bg. 2.20] “Após a destruição do corpo, a entidade viva não se aniquila. Ela...”. Assim como já demos o exemplo: meu corpo, corpo infantil, está aniquilado; ainda assim, estou existindo. Similarmente, existirei. Agora, o problema é, como existirei? Existirei eternamente em pleno conhecimento e bem-aventurança. Esta é a idéia. Mas, enquanto aceitarmos este corpo material, é exatamente o oposto. É miserável, sem qualquer conhecimento e sem eternidade. Filosofia deve ser para poupar o nosso tempo de complicados problemas econômicos. Devemos tornar a nossa vida simples e poupar tempo para o cultivo espiritual de modo que possamos nos livrar da repetição de nascimento, morte, velhice e doença.



Guru-gauranga: (traduzindo para o presidente) Muito obrigado. (fim)





Tradução de Bhagavan dasa (DvS), e revisão de Prana-vallabha devi dasi (DvS) e Prema-vardhana devi dasi (DvS) – Outras traduções em www.devocionais.xpg.com.br

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