segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Astrologia e Vaishnavismo

Excerto da obra Astrologia Comportamental Ayurvédica, de autoria de Sua Graça Gunesvara Dasa, disponível para compra neste link. Cortesia Sankirtana Books.

Astrologia e Vaishnavismo


Aprendemos dos Vedas que a Astrologia está diretamente vinculada ao Senhor Vishnu, quem, segundo os antigos textos sânscritos, é a fonte de toda a manifestação e o local de repouso de tudo o que existe. Outro nome de Vishnu é Narayana. A palavra Narayana pode se dividir em duas partes. A primeira, Nara, significa “ser humano ou pessoa”, e a segunda, Ayana, indica “local de repouso”. Os Vedas reconhecem que Narayana é o local de repouso de toda a criação e de todos os seres vivos.

No começo do livro padrão de Astrologia védica, Parashara Muni, o autor, comenta que existem nove “avataras” (encarnações) de Vishnu, e cada um deles está relacionado a cada um dos planetas. Por meditar, orar e adorar estas formas, os planetas que estiverem fracos terão sua influência negativa amenizada.

No seu livro “Ayurvedic Astrology”, Dr. David Frawley comenta o texto original de Parashara Muni fazendo referência aos avataras de Vishnu com as seguintes palavras:

Os dez avataras do Senhor Vishnu têm correspondências planetárias através das quais nós podemos também propiciar os planetas. Este é o principal método utilizado no texto clássico de Astrologia, o Brihat Parashara Hora Shastra. O Senhor Vishnu, pelo poder de Sua compaixão, voluntariamente nasce através dos planetas com a finalidade de guiar as almas das criaturas, as quais, devido ao karma delas, são compelidas a nascer através dos planetas. Todos os nascimentos, sejam divinos ou ignorantes, acontecem através dos raios planetários. Quando o sistema solar chega ao seu fim, as almas das criaturas se fundem com as deidades dos planetas, as quais por sua vez entram novamente em Vishnu, quem, em Sua natureza superior por ser a Pessoa Suprema, Purushottama, transcende todo tempo e espaço, todo nascimento e morte.

Embora na Índia existam várias correntes de pensamento filosófico e várias formas de adoração a semideuses, todas elas admitem que o Senhor Vishnu é, como comenta Frawley, a Pessoa Suprema ou o Purusha Supremo (Purusha significa pessoa). Muitas são as referências escriturais que apoiam esta conclusão. No mais antigo dos Vedas, o Rig Veda, afirma-se que todos os seres perfeitos, conhecidos como suras, estão sempre meditando na morada de Vishnu com devoção. Até mesmo o líder da filosofia não dualista ensinada no Vedanta Sutra, o grande Acarya (mestre) conhecido como Shankaracarya, afirmou que Narayana (Vishnu) existia antes de qualquer manifestação. Ele disse (em sânscrito) “narayano ’paro’ vyakta”, indicando que mesmo antes do aparecimento da prakriti (natureza material) ou do mahat (fonte dos elementos que vão criar a manifestação material) Narayana já existia. E, no final de sua vida sagrada, Sripad Shankaracarya aconselhou seus seguidores a adorar Govinda, que é um nome de Vishnu. Ele enfatizou três vezes “bhaja govindam, bhaja govindam, bhaja govindam mudha mate”, “adorem Govinda, adorem Govinda, adorem Govinda”.

Embora a filosofia da Índia transmita a impressão de que existem vários deuses principais, tais como Brahma e Shiva, encontramos que o próprio Brahma, esposo da deusa do conhecimento, deusa Saraswati, adora Govinda. Existe um texto muito antigo védico chamado Brahma Samhita, que são as orações de Brahma em glorificação a Govinda. Nesse texto, Brahma canta muitas orações que terminam com a mesma estrofe. Nessa estrofe ele diz: “Eu adoro Govinda, o Purusha original, a Pessoa Suprema” (govindam adi purusham tam aham bhajami).

No que ao Senhor Shiva se refere, Ele também oferece orações a Vishnu em mais de quarenta versos seletos, orações que se conhecem como Shiva-gita. Nestas preces, Shiva comenta como é a Personalidade Divina de Vishnu quem, desejando criar, manifesta o Mahat Tattva (energia potencial criativa) junto com os ingredientes que depois virão a formar os sentidos, os objetos dos sentidos, os cinco elementos grosseiros (terra, água, fogo, ar e éter) e os três sutis (mente, inteligência e ego). O Senhor Shiva continua descrevendo como o próprio Vishnu entra em cada coisa criada, em cada átomo, em cada ser, para acompanhar Sua criação e ver que tudo o que se realiza nela conduza ao Dharma, ao propósito correto, e finalmente à iluminação espiritual última.

Porém, quando no decorrer do tempo os princípios de Dharma ou religião se perdem, Vishnu novamente aparece para restabelecer tais princípios. Quando aparece, Ele o faz em diversas formas, as quais nem sempre são humanas. Estas formas são chamadas de avataras de Vishnu. Cada uma delas tem um propósito, uma missão particular, mas sempre relacionadas com o restabelecimento da ordem no universo, das virtudes.

Por serem Brahma e Shiva os benfeitores do Universo, eles ensinam desde tempos muito antigos estes princípios. Foi através destas personalidades divinas, Shiva e Brahma, que as escolas de Vaishnavismo (devoção a Vishnu) na linha de Bhakti apareceram neste planeta há milhares de anos. Elas são conhecidas como Rudra sampradaya (escola Vaishnava do Senhor Shiva) e Brahma sampradaya (escola Vaishnava do Senhor Brahma). Através destas linhas de sucessão discipular (sampradaya), eles transmitiram de mestre para discípulo os ensinamentos sobre a natureza transcendental do Ser original, Vishnu. Além destas escolas iniciadas por eles, existem mais duas. Uma delas, chamada Sri sampradaya, é a escola da própria consorte de Vishnu, Lakshmi (Sri é outro nome de Lakshmi). A outra escola, chamada Kumara sampradaya, foi estabelecida pelos célebres filhos de Brahma, conhecidos como os Kumaras.

Assim, segundo os ensinamentos dos Vedas, conectar-se com as diferentes formas de Vishnu, seja por ouvir, meditar, falar ou orar, ajuda na elevação de quem se relaciona com Ele. E por fazer isto, os planetas, que são também servidores de Vishnu, diminuem sua influência negativa na vida do adorador.

Se formos à Índia, encontraremos templos destinados aos nove planetas védicos. Ao entrarmos nesses templos veremos nove formas esculpidas em mármore (ou algum outro material) representando cada uma das personalidades que regem os planetas. Quando nos aproximamos ainda mais de tais Deidades, verificamos que na testa delas existe uma marca formada por duas linhas verticais (exceto na de Saturno, que tem três linhas horizontais). Esta marca de duas linhas verticais é conhecida como a marca dos devotos de Vishnu e é usada até hoje na Índia e fora dela pelos Vaishnavas, seguidores de Vishnu. Isto significa que os planetas também são Vaishnavas e por isto a Astrologia está relacionada a Vishnu.

As atividades destes avataras são descritas em vários textos védicos. A escritura que as descreve pormenorizadamente se chama Srimad-Bhagavatam. Se aconselha, portanto, ler nessa literatura as descrições dos avataras. Além de amenizar a energia negativa dos planetas, tal prática outorga elevação espiritual. Essa obra foi traduzida do sânscrito e está disponível em vários idiomas graças ao esforço e dedicação do Santo Vaishnava, Sua Divina Graça A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada.

Os avataras de Vishnu com Suas diferentes formas e relacionados aos planetas são os seguintes:

Matsya Avatara - O Peixe - Ketu

Kurma Avatara - A Tartaruga - Saturno

Varaha Avatara - O Javali - Rahu

Narasimhadeva - Metade Homem, Metade Leão - Marte

Vamanadeva - O Brahmana Anão - Júpiter

Parashurama - O Brahmana Guerreiro - Vênus

Rama - O Rei Divino e Virtuoso - O Sol

Krishna - O Supremo Atrativo - A Lua

Budha - O Iluminado - Mercúrio

Por cantar os nomes de cada um dos avataras, as pessoas podem trabalhar os planetas que no seu mapa estejam afetados. Este método não traz o risco que o uso da pedra traz, uma vez que, quando a pedra é defeituosa, o resultado é o contrário ao desejado. E muitas pessoas poderão não ter condição econômica para comprar uma pedra preciosa de boa qualidade.

Por isso, até hoje se observa que, na Índia, os sacerdotes dos templos dos avataras convidam as pessoas que se aproximam a entrarem para melhorar o planeta que está afetando suas vidas. Recentemente, um amigo que na Índia visitou um local onde existia um templo de Narasimhadeva (avatara para Marte) me contou que, enquanto ele estava passando pela frente, viu que um sacerdote desse templo estava na rua e em voz alta convidava às pessoas a entrarem. Ele dizia: “Entrem no templo de Narasimhadeva. Se vocês tiverem problemas com Marte, por favor entrem no templo”.

Os mantras para cada um dos avataras são os seguintes:

Sol - Rama

Om Namo Bhagavate Ramachandraaya ou Om Ramachandraaya Namaha

Lua - Krishna

Om Namo Bhagavate Vasudevaaya ou Om Krishnaaya Namaha

Marte - Narasimha

Om Namo Bhagavate Narasimhaaya ou Om Narasimhaaya Namaha

Mercúrio - Budha

Om Namo Bhagavate Budhadevaaya ou Om Budhaaya Namaha

Júpiter - Vamanadeva

Om Namo Bhagavate Vamanadevaaya ou Om Vamanaaya Namaha

Vênus - Parashurama

Om Namo Bhagavate Parashuramaaya ou Om Parashuramaaya Namaha

Saturno - Kurma

Om Namo Bhagavate Kurmadevaaya ou Om Kurmaaya Namaha

Rahu - Varaha

Om Namo Bhagavate Varahadevaaya ou Om Varahaaya Namaha

Ketu - Matsya

Om Namo Bhagavate Matsyadevaaya ou Om Matsyai Namaha

Como estudamos, os luminares são os mais importantes corpos celestes no estudo de nosso destino e personalidade. No mundo ocidental, o signo onde o Sol está é considerado “o signo” da pessoa. Por exemplo, se o Sol estava em Touro no momento do nascimento, então é dito que a pessoa é “de touro”. Se estava em Peixes, é “pisciana”. Mediante este estudo, analisam-se os estados comportamentais das pessoas assim como suas tendências. Vimos que se o Sol ou a Lua estivessem em signos de ar, Vata estaria presente. Se estivessem em signos de fogo então Pitta predominaria, e se estivessem em signos de terra e água, Kapha estaria presente.

De forma similar, na Índia, a estrela (Nakshatra) onde estiver a Lua no momento do nascimento, permitirá entender a personalidade e inclinações profissionais de um indivíduo. Vimos que os aspectos que os diversos planetas lançam sobre o Sol e a Lua transmitem totalmente as características desses planetas, seja de forma favorável ou não.

A Lua rege a mãe; o Sol, o pai. A Lua indica como está a nossa emoção e a nossa mente. O Sol indica como está o nosso self, nossa estima, nossa confiança, vitalidade e força. Considerando a importância dos luminares, o mantra que inclui orações aos avataras do Sol e da Lua é chamado de Maha Mantra ou grande mantra da liberação. Estes avataras são o Senhor Rama e o Senhor Krishna. Encontramos que, na Índia, o mantra Hare Krishna, Hare Rama é muito difundido. Este Maha Mantra é: Hare Krishna, Hare Krishna, Krishna Krishna, Hare Hare / Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare. Cantando tal mantra com atenção, se pode sentir proteção divina e nutrição na alma.

Essa é a riqueza da cultura védica, que até hoje encontra filosofia e devoção em todas as suas práticas, mesmo quando se tenta melhorar a vida material ao propiciar um planeta. De uma forma ou outra, tudo o que se ensina nos Vedas aponta ao benefício espiritual e à compreensão de Deus. No Bhagavad-gita o Senhor Sri Krishna diz: “Vedais ca sarvair aham eva vedyo (através dos Vedas, Eu serei conhecido)”. E como está escrito no Svetasvatara Upanishad: “Vedaham etat purusham mahantam, por simplesmente conhecer essa Pessoa Suprema — Purusham Mahantam, mesmo na Forma de quaisquer dos avataras, transcende-se a escuridão e não se volta a nascer”.

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