quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Roupas Engomadas - Da obra Sri Chaitanya-Bhagavata, de Srila Vrindavana dasa Thakura


A obra integral da qual este excerto foi retirado encontra-se disponível para venda clicando aqui. Excerto cortesia da BBT Brasil pela ocasião do Odana-sasthi, dia 30 de novembro.





Pundarika Vidyanidhi e as
Roupas Engomadas de Jagannatha



Da obra Sri Chaitanya-Bhagavata,

de Srila Vrindavana dasa Thakura,

Antya-khanda, Capítulo 10 (excerto)



Aceitando Yamesvara por residência, Pundarika Vidyanidhi vivia à beira mar próximo do Senhor Chaitanya. Dado viver em Jagannatha Puri, regularmente ele via o Senhor Jagannatha. Imensamente amado por Svarupa Damodara era Pundarika Vidyanidhi. Os dois amigos sempre iam juntos ver o Senhor Jagannatha, e alegremente desfrutavam do néctar das narrações acerca do Senhor Krishna.

Foi chegada então a data em que se observa o festival Odana-sasthi, quando o Senhor Jagannatha recebe novas vestes. Nesse dia em que ao Senhor Jagannatha os devotos ofereciam de acordo com seu próprio desejo novas vestes engomadas, foram o Senhor Chaitanya e os demais devotos ver o festival e as oferendas. Excelente e grandioso era o som musical produzido pelas mrdangas, muharis, búzios, dundubhis, kahalas, dakas, dagadas e kadas. Incontáveis e variadas vestes foram oferecidas nesse dia. Houve então um festival do sexto dia (sasthi) até o fim do mês de Magha. Acompanhando o festival desde a oferenda das vestes até o fim da noite, o Senhor Chaitanya e Seus devotos afogavam-se em amor extático.

Conquanto o Senhor Chaitanya fosse tanto o adorador quanto o objeto de adoração, ninguém seria capaz de compreender isto sem Sua misericórdia. Manifesto na forma de madeira do Senhor Jagannatha, o Senhor encontrava-Se sentado sobre Seu trono. Manifesto na forma de um sannyasi, o Senhor adorava a Si mesmo.

Muitas vestes de seda foram oferecidas – vestes brancas, amarelas, azuis e de muitas outras cores, vestes esplêndidas, vestes adornadas com ouro e pérolas. Depois que as vestes foram oferecidas, fez-se uma oferenda de ornamentos florais, dentre os quais havia braceletes de flores, coroas de flores, guirlandas de flores. Com incenso, lamparinas e todas as dezesseis categorias de oferenda agora aromatizadas com perfumes florais, foi ao Senhor Jagannatha oferecido aratik. Muitas categorias de alimento também foram a Ele oferecidas. Após assistir ao festival com Seus associados, o Senhor Chaitanya retornou muito contente para Sua casa. Uma vez em casa, o Senhor desejou boa-noite aos Seus associados e então alegremente Se recolheu para o Seu quarto.



Roupas Engomadas



Depois que todos já haviam partido, Pundarika Vidyanidhi e Svarupa Damodara permaneceram no local do evento. Os dois conversavam com toda a sinceridade de seus corações. Sem qualquer dissimulação, eles tudo diziam. No coração de Pundarika Vidyanidhi, uma dúvida referente ao estado engomado das novas roupas oferecidas ao Senhor Jagannatha nasceu. A Svarupa Damodara ele perguntou: “Por que as novas vestes oferecidas ao Senhor são oferecidas com goma? Por que neste lugar, ignorando os srutis e smrtis e sem sequer lavarem-nas primeiramente, as pessoas oferecem roupas engomadas para o Senhor?”. “Escute a explicação”, Svarupa Damodara respondeu. “Não há falha alguma no costume daqui. Talvez nem sempre aqueles que conhecem o sruti e o smrti observem este festival; se o Senhor Supremo, no entanto, não desejasse esse festival, por que Ele não proibiria o rei de observá-lo?

“Certo”, disse Pundarika Vidyanidhi. “O Senhor Supremo pode fazer o que Ele bem deseje, mas como poderiam Seus servos imitá-lO e assim fazer o que bem desejam? Por que deveriam os sacerdotes, decoradores, servos e mensageiros do Senhor Jagannatha oferecer vestes impuras, engomadas e sem terem sido lavadas? Sendo o Senhor Jagannatha a Suprema Personalidade de Deus, Ele pode fazer o que bem entenda, mas isso quer dizer que todos podem fazer o que bem entendam? Quando alguém toca uma veste engomada e sem ter sido lavada, a pessoa tem de lavar imediatamente sua mão. Por que uma pessoa inteligente não seguiria essa regra? Todavia, sem levarem isso em consideração, os representantes do rei decoram a cabeça do Rei Supremo com vestes engomadas e não lavadas”.

Svarupa Damodara então disse: “Escute, ó meu irmão. Acredito não haver nada de errado com o festival odana-sasthi. A Suprema Personalidade de Deus descendeu a este mundo como o Senhor Jagannatha. Ele não precisa pensar em regras e proibições. Pundarika Vidyanidhi disse: “Ó meu irmão, escute, por favor, minhas palavras. Certamente o Senhor Jagannatha é a Suprema Personalidade de Deus. Porque Ele é definitivamente a Suprema Personalidade de Deus vivendo em Jagannatha Puri, caso ignore qualquer regra ou proibição, não está Ele sujeito à repreensão alguma. Visto que Ele é definitivamente a Suprema Personalidade de Deus advinda a este mundo, Ele certamente pode negligenciar todas as práticas ordinárias”.

Após esta conversa, os dois amigos caminharam juntos. Eles riam repetidamente e também sorriam. De mãos dadas, os dois amigos riam da ideia de que os servos do Senhor Jagannatha pudessem possuir alguma falha. Eles conheciam o poder e as glórias dos servos do Senhor, e também sabiam o quanto Krishna ama Seus servos. Algumas vezes, o Senhor Krishna confunde Seu servo. Em seguida, com Seu coração cheio de misericórdia, Ele desfaz todo o confundimento. Foi o Senhor quem pessoalmente confundiu Pundarika Vidyanidhi. Por favor, ouçam agora como o Senhor misericordiosamente o livrou desse estado de confusão.



Jagannatha Entra no Sonho de Seu Devoto



Os dois amigos deixaram o local onde estavam e com grande felicidade observaram seus deveres para com o Senhor Krishna. Após comerem, retornaram eles ao local onde Se encontrava o Senhor Chaitanya, local este onde então dormiram.

O Senhor Chaitanya tudo sabe. Manifestando-Se na forma do Senhor Jagannatha, no sonho de Pundarika Vidyanidhi Ele entrou. Pundarika Vidyanidhi viu o Senhor Jagannatha entrar em seu sonho. Depois de fitar Pundarika Vidyanidhi com grande ira, o Senhor Jagannatha esbofeteou seu rosto. Ambos os irmãos Jagannatha e Balarama violentamente bateram com a palma de Suas mãos contra as bochechas de Pundarika. Sentindo a dor dos golpes, Pundarika Vidyanidhi exclamou: “Krishna! Salve-me!”. Ele implorava caído aos pés do Senhor: “Por favor, perdoe minha ofensa!”.

“Ó Senhor, que ofensa cometi para que Você me bata?”, perguntou Pundarika Vidyanidhi. “Sua ofensa não conhece limites”, respondeu o Senhor. “Não obstante sua moradia aqui, você nada sabe acerca da natureza elevada de Meus devotos e de Minha pessoa. Por que você permanece aqui? Isso irá arruinar seu status com as castas superiores. Para preservar esse status, seria melhor se você voltasse para sua casa. Você pensou haver algo de errado com Meu festival. Muito embora você Me trate como o Senhor Supremo, você critica Meus servos tendo identificado como um erro a oferenda a Mim de vestes engomadas e não lavadas”.

No sonho, aterrorizado estava o coração de Pundarika Vidyanidhi. Abraçando os graciosos pés do Senhor contra o seu coração, chorava ele. “Senhor, bondosamente perdoe as ofensas deste pecador”, ele disse. “Eu sou um ofensor. Ó Senhor, eu Lhe digo que sou de fato um ofensor. Senhor, punindo esta boca que se ocupou em motejar Seus servos, é Você muito bom comigo. Amanhece agora um auspicioso dia para mim, agora que com Suas graciosas mãos esbofeteou minhas bochechas e também minha boca”.

O Senhor Jagannatha então disse: “Porquanto você é Meu servo, bondoso com você Eu fui. Por esta razão, Eu o puni”. Em tal sonho, um olhar repleto de afeição lançaram sobre Pundarika Vidyanidhi os Senhores Jagannatha e Balarama. Por fim, os dois irmãos voltaram para o templo. Depois de assim sonhar, Pundarika Vidyanidhi acordou. Ao ver em suas bochechas as marcas dos tapas que recebera dos Senhores, Pundarika sorriu. “Isto é auspicioso. Isto é muitíssimo auspicioso”, ele disse contemplando as marcas deixadas pelos golpes do Senhor Jagannatha. “Eu cometi uma ofensa e o Senhor me puniu. Sou muito afortunado por ter sido punido pelo Senhor apenas de modo tão leve”.



O Glorioso e Afortunado Pundarika Vidyanidhi



Vejam! Vejam as glórias de Pundarika Vidyanidhi! A misericórdia do Senhor Supremo para com Seu servo é colossal. Mesmo enquanto educava Seu próprio filho Pradyumna, o Senhor nunca o puniu de tal maneira. Tampouco o Senhor alguma vez puniu Sita, Rukmini, Satyabhama, algum de Seus outros associados pessoais ou algum dos incontáveis semideuses e semideusas dessa maneira. Não é frequente o Senhor aparecer diretamente na presença de alguém em sonho e misericordiosamente puni-lo por uma ofensa cometida. Um devoto punido em sonho é muito afortunado. Quando desperto, sua ofensa não mais existe. Se em sonho ele recebe a benevolente punição do Senhor, o devoto obtém tudo o que é bom neste mundo. Neste mundo, ninguém pode ser mais afortunado do que tal devoto. O Senhor, contudo, jamais fala em sonho aos não-devotos.

Ponderem, por favor, sobre isso. Os yavanas talvez cometam muitos atos blasfematórios e violentos. Embora talvez sonhem com seus atos de blasfêmia e violência, o Senhor Supremo nunca os pune em seus sonhos. Porque a todo instante os yavanas ofendem os brahmanas santos, eles sofrem neste mundo e no próximo. Todavia, o Senhor Supremo não pune em sonho os pecadores não-devotos. Se o Senhor Supremo aparece perante alguém em sonho, esse alguém é muito afortunado. Esta é a minha opinião. Todos deveriam atentar para quão grande foi a misericórdia dada pelo Senhor Supremo a Pundarika Vidyanidhi na forma da punição pessoal em sonho.

Com a alvorada, Pundarika Vidyanidhi acordou. Em suas bochechas, ele viu as marcas de onde as duas mãos do Senhor O haviam estapeado. Diariamente, ele visitava Svarupa Damodara, e juntos os dois iam ver o Senhor Jagannatha. Como o fazia rotineiramente, Pundarika Vidyanidhi visitou neste dia Svarupa Damodara. Algo a lhe dizer ele tinha. Svarupa Damodara disse: “Por que, nesta manhã, você não deixou seu sono para ir ver o Senhor Jagannatha?”. Pundarika Vidyanidhi disse: “Meu caro irmão, aqui vim porque tenho algo a dizer”. Svarupa Damodara então notou as proeminentes marcas nas bochechas de Pundarika Vidyanidhi, o que o levou a perguntar acerca da origem delas.

Sorrindo, o impoluto Pundarika Vidyanidhi disse: “Ouça, meu irmão. Ontem, certa dúvida experimentei. Eu critiquei a oferenda de vestes engomadas e não lavadas ao Senhor. Esta é a razão para eu ter sido golpeado nas bochechas e trazer estas marcas que você agora vê. O Senhor Jagannatha e também o Senhor Balarama foram ao meu sonho e então me estapearam. Parecia que Eles não iriam parar. Enquanto diziam ‘Você criticou a oferenda de vestes feita a Nós’, Eles ambos deferiam tapas contra as minhas bochechas. Com os anéis de Seus dedos, Eles me golpeavam, mas não sou capaz de dizer mais. O constrangimento não me permite seguir com minha descrição. Apenas digo que hoje minhas bochechas se tornaram gloriosas.

Nada mais era Pundarika Vidyanidhi capaz de dizer. Ó meus irmãos, em seus corações, saibam, por favor, que muito afortunado ele era. Ouvindo sobre o grande amor do Senhor Jagannatha para com Pundarika Vidyanidhi, o santo Svarupa Damodara afogava-se em bem-aventurança. Uma vez que um verdadeiro amigo fica feliz diante da boa fortuna de seu amigo, os dois riam em grande júbilo. “Escute, meu irmão”, disse Svarupa Damodara. “Eu jamais ouvira acerca de uma punição tão magnífica como essa. Eu jamais ouvira dizer que o Senhor Supremo apareceria perante uma pessoa em sonho para pessoalmente puni-la”.

Assim afogavam-se em bem-aventurança os dois amigos. Dia e noite desfrutando do néctar dos tópicos referentes ao Senhor Krishna, nada eles sabiam acerca do mundo externo. Tal era a grande glória de Pundarika Vidyanidhi.

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