A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada
Ao
contrário da crença popular, as estatísticas atuais demonstram que a
Terra produz alimento o bastante para suprir facilmente toda a sua
população. Contudo, a ganância e a exploração forçam vinte e cinco por
cento da população global a ficar subnutrida. Śrīla Prabhupāda condena a
desnecessária industrialização por contribuir para o problema da fome e
por criar desemprego, poluição e uma hoste de outros problemas. Neste
discurso, proferido em 2 de maio de 1973, em Los Angeles, advoga por um
estilo de vida mais simples, mais natural e centrado em Deus.
ime jana-padāḥ svṛddhāḥ
supakvauṣadhi-vīrudhaḥ
vanādri-nady-udanvanto
hy edhante tava vīkṣitaiḥ
supakvauṣadhi-vīrudhaḥ
vanādri-nady-udanvanto
hy edhante tava vīkṣitaiḥ
A
rainha Kuntī disse: “Todas essas cidades e vilas estão prosperando sob
todos os aspectos porque abundam ervas e grãos, as árvores estão cheias
de frutas, os rios estão fluindo, as colinas estão repletas de minerais e
os oceanos estão cheios de riquezas. E tudo isso se deve ao Teu olhar
sobre tudo”. (Śrīmad-Bhāgavatam 1.8.40)
A
prosperidade humana viceja pelas dádivas naturais, e não pelas
gigantescas iniciativas industriais. As gigantescas iniciativas
industriais são produto de uma civilização sem Deus e causam a
destruição das nobres metas da vida humana. Quanto mais ampliamos essas
indústrias problemáticas para sugarem a energia vital do ser humano,
mais haverá insatisfação da massa geral de pessoas, embora alguns poucos
possam viver de maneira esbanjadora através da exploração.
As
dádivas naturais, como os grãos, legumes, frutas, rios, colinas de
pedras preciosas e minerais e mares cheios de pérolas, são fornecidas
pela ordem do Supremo, e, segundo Ele deseje, a natureza material as
produz em abundância ou as restringe de tempos em tempos. A lei natural é
que o ser humano pode se beneficiar com essas dádivas divinas da
natureza e, deste modo, prosperar satisfatoriamente, sem ser cativado
pela motivação exploradora de assenhorear-se da natureza material.
Quanto
mais tentamos explorar a natureza material de acordo com os nossos
caprichos, mais ficamos presos pela reação de tais esforços
exploradores. Se temos grãos, frutas, legumes e vegetais o bastante,
qual é a necessidade de administrar um abatedouro e matar pobres
animais?
O
homem não necessita matar um animal se ele tem grãos, legumes e
verduras o suficiente para comer. O fluir de um rio fertiliza os campos,
e há mais do que necessitamos. Os minerais são produzidos nas colinas, e
as pérolas, no oceano. Se a civilização humana tem grãos, minerais,
pérolas, água, leite etc. o suficiente, por que deveria ansiar por
iniciativas industriais terríveis a custo da labuta de alguns homens
desafortunados?
Entretanto,
todas essas dádivas naturais dependem da misericórdia do Senhor. Do que
precisamos, portanto, é sermos obedientes às leis do Senhor e obter a
perfeição da vida humana através do serviço devocional. As indicações de
Kuntī-devī vão diretamente ao ponto. Ela deseja que a misericórdia de
Deus seja conferida a ela e a seus filhos a fim de que a prosperidade
natural seja mantida pela graça dEle.
Kuntī-devī
menciona que os grãos são abundantes, as árvores são cheias de frutas,
os rios fluem perfeitamente, as colinas estão cheias de minerais e o
oceano está cheio de riquezas, mas ela em momento algum menciona que há
abundância de indústrias e abatedouros, pois isso são coisas sem sentido
que os homens desenvolveram para criar problemas.
Se dependermos da criação de Deus, não haverá escassez, mas simplesmente ānanda,
bem-aventurança. A criação de Deus provê grãos e grama o bastante, e,
enquanto comemos os grãos e as frutas, os animais, como as vacas,
comerão a grama. Os touros nos ajudarão a produzir grãos e comerão
apenas um pouco, ficando satisfeitos com o que joguemos fora. Se
comermos as frutas e jogarmos fora a casca, os animais ficarão
satisfeitos com a casca. Deste modo, com Kṛṣṇa no centro, pode haver
completa cooperação entre árvores, animais, seres humanos e todas as
entidades vivas. Isso é a civilização védica, uma civilização de
consciência de Kṛṣṇa.
Kuntī-devī
ora ao Senhor: “Esta prosperidade se deve ao Teu olhar”. Quando nos
sentamos no templo de Kṛṣṇa, Kṛṣṇa olha para nós e tudo fica bem. Quando
almas sinceras tentam se tornar devotos de Kṛṣṇa, Kṛṣṇa muito
amavelmente Se coloca perante elas em Sua opulência plena e lança-lhes o
Seu olhar, momento no qual se tornam felizes e belas.
Similarmente, toda a criação material se deve ao olhar de Kṛṣṇa (sa aikṣata). Nos Vedas,
é dito que Ele lançou Seu olhar sobre a matéria, agitando-a assim. Uma
mulher em contato com um homem se agita e engravida e, então, pare
filhos. Toda a criação segue um processo similar. Simplesmente pelo
olhar de Kṛṣṇa, a matéria se agita e, então, engravida e dá a luz às
entidades vivas. É simplesmente por Seu olhar que as plantas, árvores,
animais e todas as outras entidades vivas surgem. Como isso é possível?
Nenhum de nós pode dizer: “Simplesmente por olhar para minha esposa,
posso engravidá-la”. Contudo, embora isso nos seja impossível, não é
impossível para Kṛṣṇa. A Brahma-saṁhitā (5.32) diz, aṅgāni yasya sakalendriya-vṛttimanti:
“Toda parte do corpo de Kṛṣṇa tem todas as capacidades das outras
partes”. Com nossos olhos, podemos ver, mas Kṛṣṇa pode engravidar
simplesmente por lançar Seu olhar. Não há necessidade de sexo, porque,
simplesmente por olhar, Kṛṣṇa pode engravidar.
No Bhagavad-gītā (9.10), o Senhor Kṛṣṇa diz, mayādhyakṣeṇa prakṛtiḥ sūyate sa-carācaram: “Por meio de Minha supervisão, a natureza material faz nascerem todos os seres móveis e inertes”. A palavra akṣa significa “olhos”, então akṣeṇa
indica que todas as entidades vivas nascem por causa do olhar do
Senhor. Há dois tipos de entidades vivas – os seres móveis, como
insetos, animais e seres humanos, e os seres inertes, como árvores e
plantas. Em sânscrito, esses dois tipos de entidades vivas se chamam sthāvara-jaṅgama e ambos se originam na natureza material.
É
claro que o que vem da natureza material não é a vida, mas o corpo. As
entidades vivas aceitam tipos particulares de corpo a partir da natureza
material, assim como uma criança obtém seu corpo a partir de sua mãe.
Por dez meses, o corpo da criança se desenvolve a partir do sangue e dos
nutrientes do corpo da mãe, mas a criança é uma entidade viva; não
matéria. É a entidade viva que se refugia no ventre da mãe, que então
fornece os ingredientes para o corpo dessa entidade viva. Esse é o
proceder da natureza. A mãe pode não saber como, de seu corpo, outro
corpo é criado, mas, quando o corpo da criança está pronto, ela nasce.
Não é o caso que a entidade viva nasce. Como declarado no Bhagavad-gītā (2.20), na jāyate mriyate vā:
a entidade viva não nasce e não morre. Aquilo que não nasce não morre; a
morte cabe àquilo que foi criado, e o que não foi criado não morre. O Gītā diz, na jāyate mriyate vā kadācit. A palavra kadācit
significa “a qualquer momento”. Em tempo algum, a entidade viva de fato
nasce. Apesar de talvez vermos que uma criança nasce, não nasce de
fato. Nityaḥ śāśvato ’yaṁ purāṇaḥ. A entidade viva é eterna (śāśvata), sempre existente e muitíssimo antiga (purāṇa). Na hanyate hanyamāne śarīre (Bhagavad-gītā 2.20): não pensemos que, quando o corpo é destruído, a entidade será destruída. Não. A entidade viva continuará a existir.
Kuntī-devī diz, ime jana-padāḥ svṛddhāḥ supakvauṣadhi-vīrudhaḥ: “Os
grãos abundam, as árvores estão cheias de frutas, os rios estão
fluindo, as colinas estão repletas de minerais, e os oceanos estão
cheios de riquezas”. (SB 1.8.40) O que mais alguém poderia desejar? A
ostra produz pérolas, e, antigamente, as pessoas decoravam o corpo com
pérolas, pedras preciosas, seda, ouro e prata. No entanto, onde estão
essas coisas agora? Atualmente, com o avanço da civilização, há
muitíssimas belas moças que não têm ornamentos de ouro, pérolas ou
pedras preciosas, mas apenas pulseiras de plástico. Então, qual é o
valor de indústrias e matadouros?
Pelo
arranjo de Deus, o sujeito pode ter grãos o bastante, leite o bastante,
frutas o bastante e legumes o bastante, bem como a água de um rio
límpido. Agora, entretanto, como vejo enquanto viajo pela Europa, todos
os rios lá se tornaram asquerosos. Esse é o proceder da natureza, e o
proceder da natureza é o proceder de Kṛṣṇa. Então, qual é a utilidade de
construir imensos sistemas hidráulicos para fornecer água?
A
natureza já nos deu tudo. Se queremos riquezas, podemos pegar pérolas e
nos tornarmos ricos; não há necessidade de ficar rico mediante a
abertura de uma imensa fábrica para produzir peças de automóveis. Por
meio de tais iniciativas industriais, tudo o que criamos foram
problemas. De outro modo, temos apenas que depender de Kṛṣṇa e da
misericórdia de Kṛṣṇa, porque, pelo olhar de Kṛṣṇa (tava vīkṣitaiḥ),
tudo fica bem. Então, se simplesmente rogarmos pelo olhar de Kṛṣṇa, não
haverá questão de escassez ou necessidade. Tudo estará completo. A
ideia do movimento da consciência de Kṛṣṇa, portanto, é depender das
dádivas da natureza e da graça de Kṛṣṇa.
As
pessoas dizem que a população está crescendo, em virtude do que estão
detendo isso através de meios artificiais. Por quê? Os pássaros e bestas
estão ampliando sua população e não têm nenhum contraceptivo, mas
carecem de alimentos? Alguma vez vimos pássaros ou animais terrestres
morrendo por falta de comida? Talvez na cidade, mas com pouca
frequência. Se formos à selva, contudo, veremos que todos os elefantes,
leões, tigres e outros animais estão muito fortes e robustos. Quem está
fornecendo alimento a eles? Alguns deles são vegetarianos e alguns deles
não o são, mas a nenhum deles falta comida.
É
claro que, pelo proceder da natureza, o tigre, não sendo vegetariano,
não obtém comida todos os dias. Afinal, quem se colocará diante de um
tigre para se tornar seu alimento? Quem dirá ao tigre: “Senhor, sou um
altruísta e vim lhe alimentar. Então, pegue meu corpo”? Ninguém. Diante
disso, o tigre tem dificuldade em encontrar alimento. E tão logo o tigre
sai para caçar, um animal o segue e emite um som de modo que os outros
animais saibam: “O tigre está caçando”. Então, pelo proceder da
natureza, o tigre tem dificuldades. Ainda assim, porém, Kṛṣṇa fornece o
alimento. Após cerca de uma semana, o tigre obterá a chance de vitimar
um animal e, porque não obtém alimento fresco diariamente, manterá a
carcaça em algum arbusto e comerá um pouco cada dia. Visto que o tigre é
muito poderoso, as pessoas querem se tornar como um leão ou um tigre.
Contudo, essa não é uma proposta muito boa, pois, se alguém de fato se
torna como um tigre, não obtém comida diariamente, senão que terá de
buscar por comida com muito esforço. Se alguém se torna vegetariano,
porém, conseguirá alimento todos os dias. O alimento de um vegetariano
está disponível em todo lugar.
Agora,
em toda cidade há abatedouros, mas isso significa que os abatedouros
podem fornecer o suficiente para que alguém viva comendo somente carne?
Não. Não haverá um suprimento adequado. Até mesmo comedores de carne têm
que comer grãos, frutas e legumes junto de seu pedaço de carne. Ainda
assim, por esse pedaço diário de carne, matarão muitíssimos pobres
animais. Como isso é pecaminoso! Se as pessoas cometem atividades assim
tão pecaminosas, como podem ser felizes? Essa matança não deveria
acontecer, mas, porque está acontecendo, as pessoas estão infelizes.
Entretanto, se alguém se torna consciente de Kṛṣṇa e simplesmente
depende do olhar de Kṛṣṇa (tava vīkṣitaiḥ), Kṛṣṇa fornecerá tudo e não haverá mais questão de escassez.
Ora
parece haver escassez, ora vemos que grãos e frutas são produzidos em
tamanha quantidade que as pessoas não conseguem comer tudo. Trata-se,
portanto, de uma questão do olhar de Kṛṣṇa. Se Kṛṣṇa quer, Ele pode
produzir uma grande quantia de grãos, frutas e legumes, mas, se Kṛṣṇa
deseja restringir o fornecimento, que bem haverá na carne? Vocês podem
me comer ou eu posso comer vocês, mas isso não solucionará o problema.
Para
verdadeira paz e tranquilidade e um fornecimento suficiente de leite,
água e tudo mais, temos simplesmente que depender de Kṛṣṇa. É isso que
Bhaktivinoda Ṭhākura nos ensina quando diz, mārabi rākhabi-yo icchā tohārā:
“Meu querido Senhor, eu simplesmente me rendo a Ti e dependo de Ti.
Agora, se quiseres, podes matar-me ou podes proteger-me”. E Kṛṣṇa diz em
resposta: “Sim. Sarva-dharmān parityajya mām ekaṁ śaraṇaṁ vraja:
simplesmente rende-te a Mim exclusivamente”. (Bg. 18.66) Ele não diz:
“Sim, depende de Mim e também depende de teus abatedouros e fábricas”.
Não. Ele diz: “Depende unicamente de Mim. Ahaṁ tvāṁ sarva-pāpebhyo mokṣayiṣyāmi: resgatar-te-ei dos resultados de tuas atividades pecaminosas”.
Porque
vivemos muitíssimos anos sem sermos conscientes de Kṛṣṇa, vivemos nada
além de uma vida pecaminosa, mas Kṛṣṇa nos garante que, tão logo alguém
se renda a Ele, imediatamente Ele liquida todos os débitos e finda todas
as atividades pecaminosas do indivíduo a fim de que ele possa começar
uma vida nova. Quando iniciamos discípulos, nós, portanto, dizemos a
eles: “Agora, o débito está quitado. Agora, não cometa mais atividades
pecaminosas”.
Não
se deve pensar que, como o santo nome de Kṛṣṇa pode anular as
atividades pecaminosas, pode-se cometer uma pequena atividade pecaminosa
e cantar Hare Kṛṣṇa para anulá-la. Essa é a maior das ofensas (nāmno balād yasya hi pāpa-buddhiḥ).
Os membros de algumas ordens religiosas vão à igreja e confessam seus
pecados, mas, em seguida, cometem novamente as mesmas atividades
pecaminosas. Qual, então, é o valor da confissão? A pessoa pode
confessar: “Meu Senhor, por ignorância, cometi tal pecado”. Porém, não
se deve planejar: “Cometerei pecados e, depois, irei à igreja
confessá-los. Com os pecados anulados, posso começar um novo capítulo de
vida pecaminosa”. De modo similar, não se deve deliberadamente tirar
proveito do cantar do mantra Hare Kṛṣṇa para neutralizar as
atividades pecaminosas e, então, recomeçar os atos pecaminosos. Devemos
ser muito cautelosos. Antes da iniciação, promete-se não fazer sexo
ilícito, não usar intoxicantes, não se envolver com jogos de azar e não
comer carne, e tais votos a pessoa tem que seguir estritamente. A
pessoa, então, estará limpa. Se o indivíduo se mantém limpo dessa
maneira e sempre se ocupa em serviço devocional, sua vida será
bem-sucedida e não haverá escassez de nada que ele queira.
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